quinta-feira, 30 de junho de 2022

158 - A DITADURA DO INDIVIDUALISMO

(Caravaggio - Narcissus-1594-96)

Entre o que é essencialmente pessoal e o que é público, há abismos insondáveis. Difíceis de transpor e impossíveis de se conciliarem. Há indivíduos absolutamente lúcidos e inteligentes que propõem, por exemplo, a descriminalização das drogas, porque defendem que o indivíduo tem o direito de se estragar, de fazer de si o que acha melhor, sem que o poder público tenha nada com isso. Cada um tem o direito de se entupir, por exemplo, de comidas gordurosas tanto quanto de fumar maconha ou cheirar cocaína até uma overdose fatal. É o direito individual levado ao extremo, como o de se destruir através de todas as loucuras, desde que o fato de se drogar ou de se entupir de colesterol ou de usar uma arma de fogo não ocasione prejuízos a terceiros, no que, então, seria punido pelas leis existentes. Abre-se, aí, um universo novo de total liberdade, em que a responsabilidade individual parece ganhar ares de absolutismo, numa fórmula que condiciona a sociedade a existir e insistir no respeito às individualidades, num mundo que ganharia, afinal, os moldes de um idealismo de liberdade total. Liberdade que faria com que o indivíduo percebesse que ele pode tudo até o limite do outro, ou seja, aquele ponto em que suas ações e atitudes ofendam ou coloquem em risco o outro. As leis só existiriam como estatuto de proteção e conciliação ente os interesses individuais e a sociedade, não importando se milhões de zumbis alcoolizados, drogados e obesos andassem pelas ruas, porque, afinal, ninguém teria nada com isso. Um novo socialismo utópico se construiria, com uma sociedade não mais voltada para os valores de consumo de massa, mas para o consumo das drogas, como forma de inanição diante dos problemas comezinhos do dia a dia e de fuga da vida burguesa ou capitalista a que somos todos condenados a viver, há muito tempo. Parece lógico para essas pessoas que as doenças advindas do consumo das drogas não deveriam, então, ser tratadas. Se alguém estiver morrendo de overdose, na rua, que morra em paz. Se os obesos consumidores fanáticos de picanha se estrebucham num ataque cardíaco ou num derrame cerebral, que se contorçam sozinhos, sem que o sistema assistencial pago também com o dinheiro dos que se cuidam tenha o dever de interferir e de salvar as suas vidas. Ou, então, que os que se arvoram o direito de se suicidarem lentamente tenham os seus próprios sistemas assistenciais, pagos com seu trabalho e seu suor, seja como for que o façam, sem que venham a onerar o sistema de saúde dos outros, daqueles que não se drogam, não se estragam, não se suicidam lentamente. Então, numa sociedade assim, teríamos dois sistemas econômicos, não importando que se viva sob regime capitalista ou socialista. O direito a consumir-se não pode onerar o sistema dos que não defendem tais direitos, porque, afinal, espera-se, se a droga e o direito de estragar-se se tornarem consuetudinários, que se respeitem aqueles que não querem e não desejam estragar-se e consumir-se do mesmo modo. Talvez se proponham, até mesmo, dois governos: um para os cidadãos que não se consomem e outro para os que se arvoram o direito de estragar-se. Seria bastante curioso, por algum tempo, perceber como os que se consomem iriam administrar o sistema produtivo, se é que conseguirão constituir algum, que possa sustentar o outro sistema, o de produção e consumo das drogas. Também seria necessário que houvesse regras e leis precisas de abdução de um sistema para outro. Alguém que se droga e quer deixar de fazê-lo: de quem seria o ônus pela mudança? Ou vice-versa: alguém que não se droga e resolve apenas experimentar, por haver facilidade de aquisição, como seria o impasse resolvido? Passaria automaticamente para o outro lado ou haveria um tempo de tolerância, para ver se o indivíduo quer isso mesmo? Como estamos num mundo extremamente voltado para os valores individuais, é claro que um tempo de tolerância seria o ideal, restando apenas saber a quem caberia o ônus econômico de tal decisão. Não há dúvida de que muitos impasses podem ser resolvidos. Outros, nem tanto. De qualquer modo, o direito individual seria a lei suprema, o norteador de todas as ações sociais e políticas.


 políticas.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

157 - PERMANÊNCIA GENÉTICA

 

 (William Blake - Paradise Lost - Satan)

A noção de inferno é tardia e só assusta mesmo aqueles que são extremamente ingênuos em sua fé. Essa crença ilógica e confusa, com seus ritos de passagem, com suas complexas construções de estruturas paralelas e contínuas da vida terrena, tem sustentado a maioria absoluta dos seres humanos em seu estado de equilíbrio mental. Olhando de uma forma bastante benevolente para esse tipo de crença, pode-se dizer que foi a forma genial que a natureza, através do cérebro humano, contribuiu para que o ser humano não tivesse plena consciência de sua fragilidade e não enlouquecesse. O sentimento de vazio que a muitas pessoas afligiria durante toda a sua vida é preenchido pela falácia da possibilidade de sobreviver à própria morte. Não fosse esse culto tenebroso, talvez a humanidade não tivesse atingido os estágios de evolução em que está hoje. Teria trilhado, possivelmente, outros caminhos. Teria percorrido outras ciências e construído outras civilizações. Como seríamos, hoje, sem essa crença, é impossível dizer. Nem mesmo podemos afirmar, com absoluta certeza, que os outros caminhos teriam sido os melhores. No entanto, já levamos longe demais esse tipo de raciocínio: o ser humano já está maduro para aceitar as condições impostas pela natureza e pela vida para que ele continue a buscar o entendimento de mistérios que ele mesmo criou. Aquilo que seria uma forma de enganar a nossa psique e nos fazer aceitar as regras da natureza, quando tivermos consciência de nossa morte, passa a ser, agora, um fardo demasiado grande para a humanidade carregar, quando essas crenças se transformam em instrumentos de exclusão, de atraso científico ou em instrumentos de tentativa de dominação de um povo sobre o outro, ou ainda, o que é muito pior, em instrumentos de destruição da própria humanidade, através da aceleração de formas de destruição em massa. As crenças deístas e espiritualistas que, de forma canhestra, contribuíram para que o ser humano aceitasse o seu destino, transformam-se agora em formas de escravidão da mente humana, ao não permitirem que ele consiga dar passos decisivos para a preservação de sua espécie, imbuídos que ficam todos em lutar uns com os outros para dominar as forças da natureza e distorcê-las a favor de interesses absurdos que podem levar à destruição do próprio planeta. É preciso que uma lufada de lógica e lucidez possa percorrer a mente humana. Só assim poderá a humanidade retomar consciência de que sua permanência no globo terrestre é apenas genética e, claro, cultural, mas jamais espiritual.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

156 - MEDO DA MORTE

 

(Santiago Caruso - el eco de mis muertes - a Alejandra Pizarnik)


O ser humano é o único animal que tem noção de sua própria morte. E não a aceita. Pensar que vai desaparecer para sempre e que tudo quanto acumulou de bens materiais e de experiência de vida e conhecimento vai virar pó deixa-o angustiado e propenso a acreditar na primeira ideia de eternidade ou espiritualidade que lhe venha à mente. Para driblar o mais terrível dos medos, a morte, nós inventamos e reinventamos cultos a deuses, como forma de tentar amenizar o sofrimento da perda de nós mesmos. Não admitimos que, ao morrer, nós nos perdemos. Somos pó e ao pó voltaremos é a única lição válida. O único destino que não nos escapa. A fragilidade da vida transforma-se em tragédia, através da consciência de que morreremos. E morrer é perder mais do que a vida, é perder a si mesmo, destruir-se, aniquilar-se. A carcaça inútil presta-se tão somente a adubar a terra ou a servir de estudos para curiosos de plantão. Não valemos absolutamente nada. E esse sentimento de perda de si mesmo constitui-se na mais terrível ameaça ao ser humano, ao seu ego, àquilo que ele constrói durante toda a vida. Se vamos desaparecer, para que vivemos, então? A tentativa de compreensão desse interregno, que se chama vida, entre o nascer o desaparecer, tem sido a mais frustrante obra de observação do ser humano sobre a Terra. A necessidade de autopreservação faz que o ser humano invente ritos funerários. Exorciza, assim, o medo da morte, mas não a impede, o que o leva ao desespero. Ou ao absoluto estado de inconsciência a que denomina crença em um deus ou na vida além da morte. São formas de entorpecimento as falácias humanas a respeito de almas, espíritos e outras reencarnações. Destroem a capacidade humana de viver plenamente a vida, ao nos fazer gastar tempo e emoção na preparação para uma vida futura e na esperança de uma nova dimensão, numa outra forma de vida, chamada espiritual. A isso dedicamos grande parte de nossa existência, plano de fuga para a fuga final, certos de que, ao apagar-se o nosso cérebro, um deus justo e generoso nos receberá no outro mundo, para vivermos no paraíso.

terça-feira, 21 de junho de 2022

155 - UM BASTA AO DEÍSMO

 

(Clovis Trouille, La profanation, la belle torchie, c. 1945)



Quando a vingança deísta se torna a única saída para a solução dos problemas de segurança do mundo (estou-me referindo ao assassínio do líder terrorista Osama Bin Laden, por forças estadunidenses, em maio de 2011); quando milhões de pessoas se reúnem numa praça do Vaticano para aplaudir a beatificação de um papa, ajudando a concretizar o marketing mentiroso da igreja católica romana de que basta um decreto para que as forças do reino de um deus idiota se movam, para elevar à condição de santo uma “alma” que devia estar em algum lugar do tal “reino dos céus” (refiro-me à beatificação de João XXIII, em maio de 2011); quando o idiota de um presidente sul-americano diz que a morte do terrorista é um milagre do papa recém-beatificado (refiro-me ao presidente equatoriano); quando, enfim, milhões e milhões de pessoas gastam tempo, dinheiro e vidas humanas para esperar milagres de santos, de virgens, ao construir templos caríssimos, para louvar e adorar a esses mesmos santos, virgens e deuses, mantendo com seu suado dinheirinho castas de sacerdotes (e eu estou generalizando com a palavra “sacerdotes” todos os assalariados do deísmo, desde simples acólitos até papas, aiatolás, budas e outras bobagens idealizadas pela estúpida criatividade deísta); quando tudo isso acontece como sendo um fato absurdamente normal num mundo em que nada, absolutamente nada, de sobrenatural acontece, é chegado o momento de dar um basta ao deísmo estúpido e esmagador. Ou o Homem (com h maiúsculo, o Homem de Nietzsche) que há de nascer de toda essa barbárie acaba de vez com o deísmo ou o deísmo vai destruir a humanidade. A criatura – deus, ou os deuses (que, sob a mentira do deus único, escondem-se mil outros deuses mentirosos) – está a um passo de destruir seu criador, o Homem, pois o ser humano que se diz sapiens é apenas um joguete nas mãos da metafísica estupidificadora e deletéria da própria condição humana. O ser humano só será realmente Homem, quando destruir em sua mente a ideia de deus. Quando deixar de pensar metafisicamente. Quando acreditar que a Natureza e somente a Natureza é soberana e que entender suas leis é condição única de sobrevivência. Destruir os templos e altares – dentro da mente do Homem – pode ser tarefa para milhares de anos, e só espero que, quando isso acontecer, não seja tarde demais. O que eu sei é que é preciso não ter mais condescendência com o deísmo.

sábado, 18 de junho de 2022

154 - CABEÇA DE DINOSSAURO

 

 

(Britto Velho)

A idade média ainda não acabou. Embora o avanço tecnológico dos últimos séculos possa ser considerado impressionante, há línguas de medievalismo lambendo o pensamento humano, prendendo-o a estruturas arcaicas de superstições que contaminaram e continuam contaminando os usos, os costumes e as atitudes humanas. A tecnologia fantástica de nosso tempo, que permite que milhões de pessoas se comuniquem através de minúsculos telefones móveis com qualquer outra pessoa sobre o planeta, não se distribui igualitariamente a todos. Se a rede de telefonia se multiplica, outros inventos muito mais importantes, como aparelhos sofisticados de diagnóstico médico, ainda permanecem fora do alcance dos simples mortais e a anos luz de distância dos mais miseráveis. E a mesma tecnologia que populariza a telefonia não impede que milhões de desempregados e famintos ultrapassem as fronteiras da miserabilidade e se tornem cidadãos dignos. E mesmo os mais cultos, já uma minoria em meio ao imenso deserto de cérebros que pululam por todas as classes sociais, ainda conservam, cultuam e divulgam ideias arcaicas sobre a natureza ou sobre a origem do universo. Não compreendem, ou não querem compreender, que o mundo, a natureza e tudo o que nos rodeia nada têm de sobrenatural e que não somos governados por forças ocultas nem por espíritos ou deuses e deusas. O mundo dos seres humanos ainda tem almas, espíritos, crenças absurdas, assombrações medievais a decidir destinos e a intervir na rotina de seus trabalhos diários cheios de máquinas e tecnologias avançadas. Ainda se reúnem os seres humanos em multidões impressionantes para cultuar a imagem de uma santa católica ou uma pedra negra dentro de um santuário muçulmano. Se não dançam para chover, confiam na palavra de magos e de videntes de todas as categorias; buscam a interpretação da vida na leitura de estrelas distantes; aceitam como divina a palavra de qualquer falastrão bem articulado que se vista de padre, pastor, rabino ou qualquer outra coisa; erguem templos inúteis aos deuses, agora unificados em um só, para enriquecer associações criadas para o culto ao nada e para o enriquecimento de seus fundadores e de seus representantes; acreditam em mezinhas para a cura de doenças como câncer e aids/cida; arrostam o perigo facilmente detectável para construir suas casas em locais de risco, como se uma divindade suprema tivesse o dom de impedir as catástrofes iminentes e irreversíveis; aceitam as guerras e os assassinatos como se a vida humana não fosse o único dom que o ser humano tem; destroem o mundo com a sujeira dos gases de suas fábricas e de suas máquinas poluentes que se multiplicam como praga de gafanhotos, como se não soubessem que a Terra tem os seus limites e que esses limites não podem ser ultrapassados sob pena de colocar em risco a sua própria sobrevivência; comem os frutos podres da terra, esquecidos de que a ciência há muito descobriu a existência de vermes que prejudicam o organismo humano; enfim, desafiam o próprio conhecimento até agora acumulado pela humanidade e permitem que a vida se povoe de superstições e de pensamentos arcaicos, de há muito abandonados por uma minoria de cérebros privilegiados que sabem interpretar corretamente, o mais próximo possível da realidade, os sinais que a natureza, e não uma divindade, nos fornece para melhorar as nossas condições de vida, mas não conseguem, esses cérebros privilegiados, convencer a imensa maioria a abandonar as superstições, as crenças medievais, os cultos inúteis, os costumes absurdos, as ideias criacionistas e os demônios que continuam povoando a imaginação do homem. São resquícios medievais em que tropeçamos a todo instante, quando caminhamos por qualquer cidade deste planeta, porque o ser humano ainda tem a cabeça de dinossauro, apesar de todo o aparato tecnológico despejado sobre ele nos últimos quinhentos anos ou, mais precisamente, no último século. Se já pisou o solo da Lua, o ser humano ainda não alçou o voo da superação das crenças, atitudes, usos e costumes do passado deísta que insiste em permanecer como uma pedra irremovível na evolução do pensamento humano.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

153 - O ASSASSÍNIO COMO ATO SUPREMO DE BARBÁRIE


 (Henry Fuseli - Lady Macbeth)


Se não houver mais nenhuma arma no mundo, os seres humanos se matarão com as próprias mãos. Pode esse aforismo até ser verdadeiro: o instinto assassino do ser humano sobreviverá à destruição das armas e à conquista definitiva da paz pela humanidade. No entanto, ao matar com as próprias mãos, o assassino deverá demonstrar o total desprezo pela vida, na forma do mais abjeto ato de coragem: a coragem de admitir para si mesmo a sua covardia extrema. Pois somente um ser humano que despreze a sua própria existência admitirá eliminar a existência de outro ser humano. E isso, o desprezo da vida, é um ato de coragem, enquanto tirar a vida de outro é um ato de covardia extrema. Superar esse instinto animal, o instinto de aniquilação como redenção, como pregam as religiões deístas, deverá consumir milhares de anos de evolução da raça humana. Mas será um acontecimento fundamental para que a vida adquira o valor supremo a substituir o perverso culto à morte que tem acompanhado a história humana, com suas batalhas torpes, seus assassinatos cruéis e seus suicídios covardes.

domingo, 12 de junho de 2022

152 - DEÍSMO É APENAS MITO

 


(Carlos Barahona Possollo)


O ateísmo é a condição natural do ser humano. Pensar em um deus é exercício artificial sobre a incompreensão do mundo. A humanidade não precisa de deus. Principalmente desse deus dito único e absoluto. O deísmo, praga do pensamento, torna-se mais cruel quando se transforma em monoteísmo. O monoteísmo consagra a estupidez do pensamento humano sobre a ignorância ou a incapacidade de entender a natureza. Pensar em um deus que cria o mundo e todas as coisas que há nele é confessar a inutilidade do próprio raciocínio e da lógica. Se somos dotados da capacidade lógica, a crença criacionista e monoteísta invalida totalmente essa capacidade, torna-a nula e absurda. Porque crer em um deus é confessar a si mesmo a crença na mais absurda mentira já inventada pela mente humana. E, no entanto, em cima dessa mentira, construiu o ser humano o mais alucinante sistema de mentiras jamais imaginado. Justificar deus tornou-se um exercício da mais pura e louca fantasia, travestida de exercício lógico. Não pode o ser humano continuar a conviver com tal estupidez e sobreviver a ela. Há que destruir no âmago da inteligência humana esse mito mais do que deletério, um mito que impede o ser humano de ver a si mesmo como um elo fundamental do sistema evolutivo, um elo da vida que flui da matéria primitiva para a conquista de universos inimagináveis. A responsabilidade do ser humano diante do universo não pode ser transferida para um mito impeditivo da compreensão da natureza. Extirpar a crença em um deus criador torna-se, assim, um passo importante na evolução do pensamento lógico da humanidade, um degrau na sua caminhada rumo a destinos que só ela mesma pode definir, sem interferência de forças transcendentais que nunca contribuíram para um único momento de evolução humana. Criar mitos sempre foi uma necessidade diante do desconhecido. Um mito é sempre uma mentira que nos permite vislumbrar a verdade. No entanto, o mito de um deus criador, único, destrói o próprio conceito de mito, por não conter em si nenhuma verdade de que o ser humano possa lançar mão na sua trajetória de vida. Não se pode ter nenhuma contemplação com esse mito: ou o destruímos para sempre, ou continuamos escravos de invenções e convenções estúpidas e impeditivas do verdadeiro progresso do pensamento humano.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

151 - RESPEITAR A NATUREZA É SOBREVIVER

 

(Foto: Fátima Alves, paisagem mineira, Serra da Bocaina)


Tudo separa a humanidade, neste momento histórico, em nações, em tribos, em ideologias opostas, levando-a a guerras e conflitos aviltantes e inúteis, mas extremamente destruidores e danosos, mas uma só ideia pode uni-lo: a defesa do planeta. O problema é fazer que povos tão diferentes entre si, em estágios tão distintos de interesses, possam compreender a linguagem da natureza que aí está a nos passar mensagens claras de insatisfação. O clima esquenta as águas dos oceanos e faz derreter gelos eternos, por culpa única e exclusiva da excessiva emissão de gases poluentes e da quantidade de veneno que jogamos na atmosfera. Com isso, fenômenos naturais provocam grandes catástrofes em todas as regiões da Terra, dizimando vidas e condições de vida, destruindo o trabalho humano de inúmeras gerações em poucas e decisivas horas. Tudo se explica, só a estupidez humana não percebe que não podemos continuar a sujar os rios, a poluir o ar, a derrubar florestas, a deixar que se deteriore o solo, a envenenar os aquíferos, a matar os animais, a destruir, enfim, a casa onde moramos e na qual estamos condenados a viver ainda por muitos e muitos séculos. E a pior poluição é o idealismo pitagórico de que somos viajantes num mundo eterno, de que aqui estamos de passagem para outras paragens, para um paraíso que nos espera depois da morte. Essa concepção absurda entrava qualquer possibilidade de entendimento do que realmente somos, seres frágeis a navegar num planeta azul à mercê de forças que não compreendemos e das quais somos, sim, eternos prisioneiros: as forças da natureza, que devemos respeitar para que possamos sobreviver.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

150 - SALVAR A CASA EM QUE MORAMOS

 

(Planeta Terra, um ponto azul perdido no espaço)

De platônicas lembranças se nutre o pensamento humano, a iludir-se na criação de teogonias inúteis, de cosmogonias absurdas, longe a ideia do racionalismo puro que deve abrigar, não a ilusão da essência do mundo, mas a verdadeira visão da natureza na qual nos inserimos como parte integrante de uma cadeia de vida muito mais bela e rica do que aquela criada pela imaginação fértil da metafísica e da crença em deuses primordiais e vingadores. Livre o pensamento humano de tais incompreensões do mundo, vingariam ideias mais realistas de defesa do ambiente em que vivemos, de respeito à natureza e de visão do futuro do ser humano. Não estaríamos a depredar de forma consistente e permanente o mundo que nos acolhe, se tivéssemos o senso comum de sobrevivência não da entidade humanidade, mas da espécie humana, como elo da cadeia da vida, esta, sim, o valor supremo da natureza. Defender de si mesmo a casa onde habita, a missão dos seres humanos do século vinte e um. Se se desfizer da estúpida noção de eternidade. O planeta Terra, na ordem geral do universo, pode ser, pelo menos na compreensão que atualmente temos de sua grandeza, uma gema única em milhões de anos luz. Se permitirmos que seu ambiente se degrade a ponto de inviabilizar a vida, não haverá futuro para a humanidade. A poluição humana pode e deve ser controlada, para além de quaisquer jogos políticos de poder e dominação.

187 - PALAVRA FINAL: O ALÉM DO HOMEM

  (Vincent van Gogh) Tenho plena consciência de que tudo quanto eu escrevi até agora constitui um rio caudaloso, uma pororoca, sobre a qual ...