segunda-feira, 29 de novembro de 2021

091 - O CÉREBRO HUMANO

 

(Ney Sayão - Medusa)

Falamos, às vezes, da mente primitiva do homem das cavernas, por exemplo. Por falta de melhor palavra, até aceito o adjetivo. No entanto, não nos esqueçamos de que a nossa mente também ainda é muito primitiva. Ou seja, a evolução não dá saltos. Não tem pressa. Não acontece de uma hora para outra. Entre nós e nossos antepassados, o tempo é muito pequeno, em termos cosmológicos. Estamos ainda engatinhando, no processo evolutivo natural. Somos bebês a ensaiar os primeiros passos. Nosso cérebro – como já disse algures, uma fantástica usina – ainda deve ter muito a evoluir, ou seja, a modificar-se, a transformar-se, principalmente quando sabemos que, conscientemente, só usamos uma pequena parcela dessa usina para criar todo um complexo civilizacional sem precedentes até agora. Mas as diferenças entre os cérebros, no ser humano hodierno, embora sejam um assunto tabu, ainda constituem um mistério da natureza. Enquanto há cientistas cujos cérebros têm a capacidade de imaginar, criar e projetar máquinas fantásticas, como naves especiais comandadas por sofisticados computadores, ainda há milhões de seres humanos vivendo na mais sórdida ignorância de aspectos vitais, como a noção da própria existência independente de deuses. Mesmo os cérebros privilegiados para tarefas extremamente complexas manifestam total inadaptabilidade a aspectos comezinhos da existência, como se houvesse um grau tão grande de especialização de uma área cerebral que não permitisse o desenvolvimento de outras sinapses senão aquelas para as quais a mente se especializou. Ou seja, há sábios idiotas. O problema é que não há idiotas sábios. Os poucos que assim poderiam ser denominados foram sempre indivíduos portadores de síndromes tão estranhas quanto desenvolver capacidades únicas e levar essa capacidade a um grau tão grande de especialização, que se comprometem todas as demais funções cerebrais ditas e aceitas como normais. Não tem nenhuma serventia prática a capacidade de um cérebro de fazer cálculos matemáticos sofisticados, por exemplo, e o homem portador desse cérebro possuir um alto grau de esquizofrenia que o impede da convivência com outros seres humanos. O estereótipo do cientista louco tem, como todo mito, alguma base de verdade. As inteligências diferenciadas, geralmente, têm falhas estruturais nos demais mecanismos cerebrais que os tornam inadaptados para outras funções. Assim, por serem indivíduos diferentes, os cientistas acabam sendo taxados de loucos. São compensações que a natureza faz, em suas experiências, dotando uma área cerebral de maior capacidade em detrimento de outras. São aspectos interessantes a serem compreendidos, futuramente. Aspectos que permitem que especulemos sobre os rumos da evolução, embora toda especulação nesse campo tenha altíssima possibilidade de erro. No entanto, se até agora algumas dessas experiências não têm dado muito certo, criando alguns dinossauros invertidos, isto é, indivíduos com altíssima capacidade cerebral e pouca adaptabilidade aos demais aspetos da vida prática, nada nos impede de pensar que, em algum momento da cadeia evolutiva, essas experiências comecem a encontrar um equilíbrio que permita desenvolver um novo tipo humano, dotado de capacidades cerebrais desenvolvidas de forma mais equilibrada, um homem mais inteligente e, ao mesmo tempo, sem as síndromes de inadaptação que muitos de nossos chamados gênios sofreram, ao longo da história. No entanto, são especulações que não podem ser confrontadas com a realidade, porque são modificações tão sutis, no longo rio da evolução, que não temos, ainda, como medir e avaliar o que realmente está acontecendo. Além disso, não há, verdadeiramente, em termos de evolução, um único rio que conduza a humanidade a um destino único, mas inúmeros rios que caminham para destinos diferentes, com diferentes tamanhos e com obstáculos também diversos, de tal modo que o ser humano, ao mesmo tempo, seja considerado uma espécie única, tem inúmeros afluentes e corredeiras e quedas. Muitos desses rios se transformam em riachos, em fios d’água, e desaparecem no meio do caminho, enquanto outros podem tomar rumos completamente inusitados. Porque a lei da natureza é experimentar sempre, ao acaso. Só os mais adaptados tendem a permanecer. Mas também aí só o acaso pode determinar que isso de fato aconteça. Uma espécie pode desaparecer em virtude de mudanças dramáticas do ambiente, ou por escolhas infelizes no caminho da vida. E o ser humano é uma espécie que tem alta capacidade de escolha. Se optar por um caminho errôneo, pode comprometer sua sobrevivência no universo.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

090 - OS CARBUNCOS


(Zdzisław Beksiński)


Pensar dialeticamente constitui uma interessante ferramenta para tentar entender a existência. Mas, pode também conduzir a armadilhas simples. Somos levados, por exemplo, a raciocinar que, se há uma “existência”, deve haver uma “não-existência”, ou seja, acabamos contrapondo o ser ao nada. Criamos, então, uma categoria, ou seja o que for, um ente, chamado nada. E o que é o nada? Debruçaram-se os filósofos sobre a questão, desafiaram-se em busca da explicação para o nada, à exaustão. Muitos neurônios queimados depois e alguns séculos de busca não redundaram em absolutamente nada. Ou seja, só existe o nada quando os filósofos discorrem sobre ele. É um ente inventado, que só existe na linguagem, na abstração da linguagem. Posso, com a linguagem, inventar o que eu quiser. Por exemplo, os carbuncos. São um povo originário do planeta Arguidelo, aqui trazidos por um desastre de sua nave espacial, que ia em direção a uma outra galáxia e sofreu uma pane, tendo a desgraça de cair justo no planeta Terra. Estabeleceram-se, há milhares de anos, na ilha de Chipangó, e ali permaneceram. São homúnculos de orelhas redondas, única característica que os distingue dos demais humanos, além da tendência à pouca altura, embora não sejam anões. Vivem da terra e seu principal alimento foi trazido de seu planeta de origem: é uma raiz muito saborosa e rica em nutrientes, chamada naiperê. Os carbuncos não são muito sociáveis e, por isso, permaneceram isolados até há pouco tempo. Com o contato com a civilização humana, estão-se descaracterizando e entraram em processo de extinção. Pronto: aí está um povo que pode interessar a muitos estudiosos. Pode-se objetar: mas o carbuncos não existem. Ora, claro que existem: acabei de inventá-los. Assim também o nada: existe a partir do momento em que o inventaram. E mais não digo sobre isso, porque muita tinta já se gastou para tentar chegar ao conceito do nada, para justificar a criação do mundo, a existência de deus (outro nada) e para justificar mil e uma bobagens da crença metafísica de que há um mundo das ideias, um mundo ideal, abstrato, que se contrapõe ao mundo físico. Como se, com o mundo físico, já não tivéssemos problemas demais para resolver, em todos os campos do conhecimento humano. Não conheço um único ser humano que se tenha beneficiado realmente com a propalada existência desse mundo ideal ou com a concepção filosófica do nada, a não ser os pobres filósofos da imponderabilidade, melífluos seres em permanente estado de flutuação mental pelas paisagens do mundo, ou seja, os metafísicos. E gostei tanto dessa última frase, que gostaria que ela fosse realmente a última desse parágrafo, mas acabei de estragar isso, ao fazer tal comentário.


terça-feira, 23 de novembro de 2021

089 - SEM TRANSCENDENTALISMOS

 

(William-Adolphe Bouguereau:1825-1905)

Não é preciso, para admirar uma obra de arte, que eu busque uma tal “beleza” oculta ou transcendente. Basta que essa obra toque os meus sentidos e me provoque uma sensação de reconhecimento, de harmonia com as forças da natureza e com meus sentidos, para que eu a declare “bela”, sem nenhum sentimento de algo além do que ela é realmente. Não preciso buscar “a” beleza, porque isso é uma categoria abstrata, criada apenas para tentar iludir nossos sentidos e fazer com que não interpretemos corretamente o conhecimento que nos chega através dos sentidos. Ainda há um longo caminho a nossa frente. Não entendemos tudo e talvez tão cedo venhamos a entender. Mas abdicar desse conhecimento em nome da metafísica imbecil, da busca de um “ente” por trás de cada objeto, tem mantido o ser humano nas trevas da ignorância e presa fácil dos prestidigitadores deístas de plantão, ávidos por manter sobre as mentes humanas o poder que conquistaram com suas falácias, a partir de abstrações absurdas de nossos antepassados. Não. O ser humano não precisa de metafísica alguma. Basta existir e gozar o que de belo e harmonioso chega a seus sentidos, vindos, o belo e o harmonioso (sem transcendências), do mundo em que vive. Um mundo de matéria e forças físicas em equilíbrio. Não esquecendo que é mais fácil descobrir as leis que regem o movimento dos planetas e dos astros do que entender o que ocorre dentro de nosso cérebro.


quarta-feira, 17 de novembro de 2021

088 - SEXTO SENTIDO


(Javier Arizabalo García)


Descobriu-se que há uma área no cérebro que nos avisa de possíveis situações de perigo à nossa frente, a partir de informações e dados anteriormente vividos ou conhecidos através de várias fontes e armazenados ali de forma inconsciente. A premonição, portanto, nada mais é que uma forma, provavelmente primitiva, de sobrevivência, que pode estar ou não mais ou menos ativada em cada indivíduo. Quando pensamos que temos um “sexto sentido”, abstrato, metafísico ou relacionado às condições da “alma” ou a avisos de além-túmulo, a ciência começa a nos explicar que tudo não passa de artimanhas do cérebro. Tudo o que sentimos, todas as nossas sensações, nossos “estados d’alma” nada mais são do que resultado da análise, na maior parte dos casos inconsciente, de conhecimentos advindos através de nossos órgãos sensoriais para o cérebro, devidamente armazenados e usados para nos proteger, ou proteger a vida. Estamos, nesse ponto, muito mais próximos dos animais do que poderíamos imaginar. Na vida selvagem, os animais necessitam, conforme o ambiente, ter sentidos extremamente aguçados. Um elefante asiático pode, por exemplo, sentir o perigo que vem de um terremoto que está ocorrendo há centenas de quilômetros pelas ondas que se propagam sob a terra até suas patas e avaliar o risco, colocando-o em alerta para fugir. Provavelmente, nós também deveríamos ter esse sentido aguçado. Mas a vida moderna fez que isso se tornasse desnecessário e baixamos nossa guarda. Desenvolvemos, no entanto, muito provavelmente, outras percepções inconscientes, como as situações de perigo resultantes, por exemplo, de um acidente de avião ou de carro. E temos nossas premonições, que ocorrem aleatoriamente nos indivíduos, muito provavelmente resultantes de um histórico de vida ou de conhecimento específico. Por isso, não serão todos os indivíduos que terão a tal premonição, tampouco haverá certeza de que ocorrerão sempre. Mas o importante, nisso tudo, é que a ciência começa a desvendar aspectos até então desconhecidos de uma pretensa “espiritualidade” que não passa do resultado de nossa vivência num mundo que nada tem de metafísico, pelo contrário, é extremamente materialista. E não há perda nesse reconhecimento. O ser humano não deixará de ser menos complexo, em sua capacidade e em seu existir, se não tiver a tal “espiritualidade” ou descobrir que não há “essência” ou “ente” além daquilo que os nossos sentidos e nossas descobertas nos revelam.

domingo, 14 de novembro de 2021

087 - NEURÔNIOS E AMOR



(In my mind by Simona Mereu)


A metafísica. Sempre ela a cutucar meus neurônios. Os filósofos gregos compreenderam, até certo ponto, que há uma mecânica no universo. Mas não souberam interpretá-la, ou quiseram explicá-la com o conhecimento da época que, embora, já enorme, não era suficiente para isso. Inventaram, então, que há uma “essência” das coisas. E que é preciso entender essa “essência”, para entender o universo. Abstraíram a natureza ou criaram abstrações para explicá-la. Por exemplo, o amor. É preciso entender a “essência” do amor, chegar à noção de perfeição e de identidade de um ser essencial com outro ser essencial, para se chegar à noção de amor. Ora, a ciência, hoje, ainda engatinhando no conhecimento de regiões obscuras do nosso cérebro, a mais sensacional obra da evolução dos seres, começa a descobrir que todos os nossos sentimentos estão localizados em alguma área de nossas sinapses e dependem, basicamente, de uma química qualquer entre essas sinapses para que eles, os sentimentos, surjam. E o amor nada mais é do uma reação química de nosso cérebro, no reconhecimento do outro, provavelmente com a intenção de procriação e manutenção da espécie. No entanto, como a natureza não faz julgamentos morais, mas experiências, nada mais normal do que experimentar com a afinidade química entre dois indivíduos de mesmo sexo, o que faz nascer o amor homossexual, existente também entre outros animais que não os humanos. Nada há de anormal nisso, apenas uma possibilidade dentre outras que a natureza desenvolve, nos caminhos da evolução, para buscar indivíduos mais ou menos adaptados ao ambiente. Devemos ter em nossa árvore genética genes que indicam nossas opções e preferências sexuais, as quais são transmitidas ao cérebro, que irá apenas processar suas ligações e oferecer ao indivíduo o caminho de suas escolhas. São conhecimentos que começam a surgir a respeito dos sentimentos e das sensações, daquilo que ainda não sabemos explicar, mas que estão todos, esses conhecimentos, escondidos na máquina de processar dados que é o nosso cérebro.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

086 - SOMOS EXTREMAMENTE PRIMITIVOS


(Liu Xue) 





Temos que nos conscientizar que nós, humanos do século vinte e um, somos primitivos, extremamente primitivos. Nosso sistema de produção industrial é podre e antiecológico, poluidor e destruidor do ambiente em que vivemos. Nossos sistemas políticos são primários e absurdos, pois ainda confiamos nossas vidas a seres humanos desprezíveis, guerreiros de quinta categoria, bárbaros que ainda pensam resolver os dilemas da humanidade com bombas, sejam elas atômicas ou caseiras. Nossos sistemas sociais são excludentes e obsoletos na sua forma de distribuição das benesses da tecnologia. Enfim, nossa sociedade atual é podre em aprofundar desigualdades, em criar ilhas imensas de excluídos, em não conseguir erradicar a fome, a miséria e as doenças endêmicas do mundo. O que chamamos hoje de civilização é apenas um arremedo da capacidade do ser humano de produzir desgraças e está muito longe do que seja realmente uma civilização. Noções espúrias de raça, de religião, de sistemas políticos antidemocráticos aprofundam diferenças entre os povos, como se o diferente não fosse o elemento mais importante da sobrevivência humana. O ser humano ainda precisará passar por centenas, talvez milhares de guerras de extermínio, de lutas injustas, de perseguições uns aos outros até que consiga compreender que não é esse o caminho; que precisa reciclar todas as absurdas crenças até então desenvolvidas; jogar no lixo todo a metafísica acumulada em milênios de superstições e noções erradas sobre a natureza, para obter finalmente o equilíbrio necessário à construção de uma verdadeira civilização. Que inclui restabelecer o equilíbrio do humano com as forças que tornam nosso planeta um ser vivo e instável, com seus humores, com suas provocações em forma de acidentes naturais, que o ser humano cisma em querer domar ou desafiar. Por isso, não há necessidade de coerência naquilo que escrevo, nisto que insisto em repetir sobre a capacidade dos humanos do futuro em relação a este ser humano de um triste tempo de guerras, extermínios, miséria e doenças.


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

085 - RIO DA EVOLUÇÃO

(Valquíria Cavalcante)



O ser humano, com todo o seu arcabouço intelectual, mental e fisiológico, gosta de pesar que é o elo supremo. Isso é outra besteira criacionista. Não há elos supremos. Há apenas elos. A corrente da evolução ainda vai surpreender deveras a humanidade. Nossos registros intelectuais são extremamente limitados, na corrente da existência. Se pensarmos que o universo tem como tempo de existência vinte e quatro horas, teríamos que dividir o segundo em milhões de subunidades para captar o instante em que o ser humano começou a se comunicar, depois desenvolveu a linguagem e, finalmente começou a registrar essa linguagem através da escrita. Portanto, nossa verdadeira história ocupa menos que um átimo no rio da vida. Quando, daqui a milênios, puderem os humanos do futuro resgatar o que hoje estamos produzindo em termos de registro, muito possivelmente esse ser humano jogará tudo isso que fizemos até agora num único momento, chamado, talvez, nascimento do registro da comunicação humana, pois estamos, por incrível que isso nos possa parecer, apenas engatinhando nesse processo de comunicação escrita. Seremos considerados tão primitivos quanto consideramos primitivo o homem da caverna e suas pinturas rupestres. Porque o rio da evolução terá caminhado e, se quisermos uma medida do quanto ele caminhou, talvez, numa outra metáfora absurda, possamos imaginar que ele ultrapassou a cachoeira que está ali, a cinquenta metros de onde estamos hoje, num percurso de extensão amazônica. E não acho que esteja exagerando, pelo contrário, ainda estou sendo otimista.


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

084 - TORTUOSOS CAMINHOS DA EVOLUÇÃO

(Yves Tanguy (January 5, 1900 – January 15, 1955) French surrealist painter)

Não há coerência, necessariamente, nisto que eu escrevo. Há temas recorrentes aos quais acrescento novos fatos e novas indignações. É necessário, e ponto. A vida não é coerente. E sigo o caminho do meu raciocínio, por mais tortuoso e torturado que ele possa ser. Escrever é apenas um destino. Ou uma maldição. Mas também isso é superstição. Não corresponde à realidade. A verdade absoluta não existe, isso é ponto pacífico. Mas há a minha verdade que precisa ser comprovada, medida, verificada através do discurso, por mais confuso e circular que ele seja. Não há perfeição na natureza. Porque, quando houver perfeição, não haverá mais evolução. Não havendo evolução, haverá degeneração. E a vida deixará de existir. Existir é evoluir. E evoluir é existir. Essa a lei do universo. Uma lei cuja força ainda não compreendemos muito bem. Porque pensamos ainda metafisicamente. Achamos que há uma força que toca a evolução. Não. Não há força nenhuma. Há apenas as experiências e os tortuosos caminhos da mudança. Porque evoluir não é melhorar, mas apenas, mudar. Transformar e transformar-se, buscando formas e fôrmas que melhor se adaptem ao meio, que melhor se adaptem umas às outras ou ao simples destino de existir.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

083 - CIÊNCIA E RELIGIÃO

 

(Jean Leon Gerome - verité au fond du puit)


A conciliação entre religião e ciência é impossível. Onde há religião, pode até haver ciência, mas será sempre limitada pelo obscurantismo religioso. E onde há ciência, se se interpuserem conceitos religiosos, a ciência aborta, estiola ou não obtém progressos. Em termos conceituais, entretanto, a ciência se opõe à religião, pelo simples fato de que a religião é baseada na crença, na fé; e a ciência, em fatos. Fatos por fatos, não há provas da existência de deus, não há prova de que a fé possa ter algum poder sobre qualquer matéria ou, até mesmo, sobre o pensamento. A religião estupidifica o ser humano, enquanto a ciência torna-o mais sábio. A religião cria superstições, exclusões e divisões entre os humanos. A ciência, embora não seja uma vestal, busca a verdade, somente a verdade. Não confundamos maus cientistas com ciência. Não há conceitos morais na ciência. Não existe maldade ou bondade, certo ou errado. Para a ciência, há apenas a verdade, o fato, a comprovação. Portanto, qualquer tentativa de buscar provas científicas de conceitos morais, filosóficos e, principalmente metafísicos, seve apenas para obscurecer a ciência e iludir os incautos. Não pode a religião estabelecer regras para a ciência, que isso é apenas vontade de alguns líderes religiosos de deter a evolução científica e manter o mundo na obscuridade de conceitos errôneos e absurdos. O papa ou o rabino ou o aiatolá ou quem quer seja que se autodenomine representante de qualquer crença, fé ou de um deus obtuso não podem e não deveriam ser ouvidos, quando se trata de ciência. Os objetivos de ambos são diametralmente opostos: a ciência busca a liberdade; a religião, como seu nome indica – religare, religar o homem a um deus – busca a escravização da mente humana a conceitos que apenas servem aos interesses mesquinhos de igrejas, seitas e associações semelhantes cujo único objetivo é manter o poder de uma casta que se denomina superior, os sacerdotes (seja de que credo for – são todos gatos no mesmo balaio, brigando entre si). Portanto, misturar ciência e religião é o que de pior podem fazer cientistas, sejam eles um Einstein ou um Galileu ou Marie Skłodowska-Curie.

187 - PALAVRA FINAL: O ALÉM DO HOMEM

  (Vincent van Gogh) Tenho plena consciência de que tudo quanto eu escrevi até agora constitui um rio caudaloso, uma pororoca, sobre a qual ...