segunda-feira, 31 de maio de 2021

004 - A ORIGEM DO UNIVERSO E A NOSSA PEQUENEZ

 

(Vincent Van Gogh - Starry Nigh)

Há a teoria do big-bang. Plausível. Explica a origem do universo? Talvez. Se pensarmos que pode haver algo ainda maior que o universo constituído de átomos, uma zona de não-energia, de não-existência, que o envolve, talvez. Mas, e além disso? Se o universo teve um começo, há de ter havido um antes. E o que é esse “antes”? Um deus ex-machina? Um nada absoluto? Não sabemos e não saberemos nunca. Apenas podemos conjeturar que ele – o universo – existe e se expande. Começou e deve terminar, num eterno retorno cujas causas e consequências nossa capacidade atual de entendimento mal consegue esboçar nesta linguagem limitada por nossa pequenez.

O ser humano, “bicho da terra tão pequeno”, é muito, mas muito menor do que sonha a nossa vã filosofia. O olhar do astrônomo mede distâncias que mal conseguimos traduzir: bilhões de anos luz. Difícil explicar para alguém que olha o céu que ele está vendo o passado. E um passado talvez muito distante. Será que há outros olhos a nos olhar do mesmo modo? Tudo é possível. Só não é possível provar. Talvez nunca consigamos chegar às fronteiras de nosso próprio sistema solar. E nunca consigamos entender o mundo em que vivemos. E isso não é maldição. É apenas a realidade. Basta olhar para o lado e comprovar: não entendemos nem como funciona a matéria que nos cerca ou, mesmo, a matéria de que somos feitos. E queremos entender o universo! E queremos que o universo tenha tido um criador que se preocupa conosco. Com nossa ínfima pequenez. Triste arrogância de quem não se conhece!

domingo, 30 de maio de 2021

003 - A DIMENSÃO DO SER HUMANO




Uma metáfora ridícula pode começar a dar a dimensão verdadeira do que somos. Imaginemos em nossos intestinos os milhares de organismos vivos que o habitam: seres unicelulares que ajudam na digestão e na transformação dos alimentos que ingerimos. Imagine, agora, um desses seres a pensar sobre a sua relação com o organismo em que vive. Imagine-o pensando em como será o ser que o traz dentro de si. Que noção ele teria? E imagine mais ainda: que noção esse ínfimo organismo teria da relação do ser que o transporta com os demais seres da mesma família? E com os demais seres do bairro, da cidade ou do país em que ele vive? Será que o organismo unicelular de nossos intestinos, dotado de algum tipo de inteligência racional, teria condições de atingir a noção de continentes e mares? E do sistema solar? E... Bem, paremos por aqui. Porque mais ou menos isto é o ser humano diante do universo que o circunda: um miserável ser unicelular vivendo num planeta dentro de um sistema solar, dentro de uma galáxia, dentro de... dentro de quê? De um universo cujos limites nenhuma mente humana é capaz de atingir e compreender, no atual estágio de evolução em que nos encontramos. Um universo que deve ter tido um começo em algum momento do espaço-tempo e que deverá ter um fim e que está situado dentro de quê? Não sabemos e não saberemos nunca.


sábado, 29 de maio de 2021

002 - ARROGÂNCIA DO SER HUMANO

 

(Escultura de Albert Gyorgy: nature eternelle)

É muito triste observar que são muito poucas as mentes verdadeiramente iluminadas que compreendem o que é o ser humano e sua relação com o universo que o circunda. Somos menos que um elétron de um átomo qualquer na imensidão do cosmo. E, no entanto, portamo-nos como donos do universo e último elo da cadeia evolutiva.

Não. Definitivamente não somos a criatura suprema das forças evolutivas da natureza. Precisamos compreender que somos, sim, uma parte ínfima do grande rio da evolução. Criaturas incompletas e mutantes, caminhantes para um destino que não sabemos qual será.

Nietzsche teve um mero alumbramento do que representa o ser humano na Terra. Um alumbramento genial e difícil de ser compreendido. Mas, se não tivermos a consciência desse alumbramento, não conseguiremos entender o que somos, o que fazemos aqui e para onde vamos.




quinta-feira, 27 de maio de 2021

OO1 - O SUPER-HOMEM E A UTOPIA


 

Ao mesmo tempo em que confio na capacidade do ser humano de ultrapassar a barbárie e tornar-se melhor, angustia-me olhar para o mundo e ver que ainda estamos mergulhados nas trevas de doutrinas estúpidas, de filosofias arrogantes e de superstições ultrapassadas.

A humanidade ainda levará muitos séculos para tornar-se verdadeiramente civilizada. O “além-do-homem” de Nietzsche será, talvez, utopia? Não sei. Apenas sei que a evolução humana devia transcorrer de acordo com as leis da natureza, mas o homem intervém desastradamente na correnteza da vida e pode comprometer, com isso, o seu futuro.


000 - INTRODUÇÃO

(Foto de Martin Schoeller)
  


ESTA É A INTRODUÇÃO DE UMA PALESTRA... 
QUE, TALVEZ, NUNCA SE REALIZE. 
SONHAR, NO ENTANTO, É POSSÍVEL.


Fico imaginando uma plateia imensa e um palco desnudo, sobre o qual uma mesa ou um parlatório. Apenas um foco de luz sobre mim. Olho a multidão na penumbra, sinto o seu pulsar, são dezenas, talvez centenas de pessoas curiosas, intrigadas. Puxo a respiração, para acalmar-me um pouco, e começo, talvez um tanto titubeante, mas logo minha voz se solta e estou falando assim, de forma clara e pausada:

Senhores e senhoras. Podem, se quiserem, vaiar-me ao final. Mas antes de qualquer manifestação de sua parte, quero apenas que me ouçam. O que eu vou dizer não são palavras ou pensamentos fáceis de serem ditos e muito menos de serem ouvidos. Não pretendo ter a verdade nem dizer a verdade. Tudo o que posso dizer são palavras que me vieram à mente durante meus muitos anos de vida e são fruto de um longo e constante meditar sobre a vida, os mistérios do universo, sobre o homem. Não há muita luz sobre esses assuntos e, como já disse e reitero, não é minha a última palavra. Muitos já pensaram nos assuntos sobre os quais vou discorrer, e talvez nem haja novidade nisto tudo, mas o beneplácito de seus ouvidos serão a recompensa para essas palavras que não são nem de um sábio, nem de um louco, mas de um homem que olha para o lado e vê, que cruza o seu caminho e pisa os mesmos espinhos que vocês. Meu único mérito, talvez, seja a coragem de estar aqui, agora, diante de todos a expor-me. Eu, que sempre fui o último a falar e que nem sempre era ouvido. Eu, que deixava que outros falassem em meu lugar, agora estou aqui, diante de vocês, pedindo apenas que me ouçam. Não me importarão, ao final, apupos ou aplausos, porque não são eles importantes para mim, mas para vocês mesmos, porque indicarão que me ouviram e que concordaram ou discordaram de tudo o que eu disse, mas minhas palavras não caíram no vazio. Vamos à palestra.


187 - PALAVRA FINAL: O ALÉM DO HOMEM

  (Vincent van Gogh) Tenho plena consciência de que tudo quanto eu escrevi até agora constitui um rio caudaloso, uma pororoca, sobre a qual ...