quinta-feira, 27 de maio de 2021

000 - INTRODUÇÃO

(Foto de Martin Schoeller)
  


ESTA É A INTRODUÇÃO DE UMA PALESTRA... 
QUE, TALVEZ, NUNCA SE REALIZE. 
SONHAR, NO ENTANTO, É POSSÍVEL.


Fico imaginando uma plateia imensa e um palco desnudo, sobre o qual uma mesa ou um parlatório. Apenas um foco de luz sobre mim. Olho a multidão na penumbra, sinto o seu pulsar, são dezenas, talvez centenas de pessoas curiosas, intrigadas. Puxo a respiração, para acalmar-me um pouco, e começo, talvez um tanto titubeante, mas logo minha voz se solta e estou falando assim, de forma clara e pausada:

Senhores e senhoras. Podem, se quiserem, vaiar-me ao final. Mas antes de qualquer manifestação de sua parte, quero apenas que me ouçam. O que eu vou dizer não são palavras ou pensamentos fáceis de serem ditos e muito menos de serem ouvidos. Não pretendo ter a verdade nem dizer a verdade. Tudo o que posso dizer são palavras que me vieram à mente durante meus muitos anos de vida e são fruto de um longo e constante meditar sobre a vida, os mistérios do universo, sobre o homem. Não há muita luz sobre esses assuntos e, como já disse e reitero, não é minha a última palavra. Muitos já pensaram nos assuntos sobre os quais vou discorrer, e talvez nem haja novidade nisto tudo, mas o beneplácito de seus ouvidos serão a recompensa para essas palavras que não são nem de um sábio, nem de um louco, mas de um homem que olha para o lado e vê, que cruza o seu caminho e pisa os mesmos espinhos que vocês. Meu único mérito, talvez, seja a coragem de estar aqui, agora, diante de todos a expor-me. Eu, que sempre fui o último a falar e que nem sempre era ouvido. Eu, que deixava que outros falassem em meu lugar, agora estou aqui, diante de vocês, pedindo apenas que me ouçam. Não me importarão, ao final, apupos ou aplausos, porque não são eles importantes para mim, mas para vocês mesmos, porque indicarão que me ouviram e que concordaram ou discordaram de tudo o que eu disse, mas minhas palavras não caíram no vazio. Vamos à palestra.


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