sábado, 16 de abril de 2022

136 - O PODER É SEMPRE CONSERVADOR

 

(Escultura do Rei Arthur no castelo de Tintagel, Inglaterra, por Rubin Eynon)

A aparente participação entusiasta de grandes populações em manifestações revolucionárias, quase sempre, é apenas um engodo de primeira hora, ou seja, as pessoas são levadas por entusiasmo a gritarem contra ou a favor de determinados movimentos, mas, quando a poeira baixa, o conservadorismo popular volta à tona, levando a que a revolução estabelecida entre no processo de autofagia a que toda revolução se condena, por não levar em consideração a falsidade do apoio popular ao seu programa de governo. Os governos revolucionários que se instalaram em todos os países ou estados do mundo sempre pagaram um alto preço por não terem a percepção exata da vontade conservadora do homem comum. Pagaram com autofagia ou desfiguramento total de suas propostas iniciais. E, após o processo de destruição da revolução esboçada, o retrocesso torna-se inevitável. A permanência no poder revela apenas que houve acomodação aos desejos populares das propostas inicialmente revolucionárias e, sob um tênue manto de mudanças conjunturais, a estrutura social e política continua a mesma, através da permanência ou conquista dos poderes periféricos pelos conservadores, gestando, assim, a reconquista do poder central pelos líderes conservadores do mesmo povo que antes saudava as mudanças e agora se coloca de forma muitas vezes silenciosa, mas constante, na oposição às reais motivações revolucionárias. Por isso, todo poder é conservador, como forma e medida de sua sobrevivência. E, se não há possibilidade de a revolução se construir a partir do poder nem a partir da tendência conservadora do povo, o sonho de mudanças profundas e permanentes do estrato social e político de um povo transforma-se em utopia e, muitas vezes, em pesadelo, o que é profundamente lamentável para as forças progressistas do mundo, às quais fica reservado o papel de influir apenas de forma indireta, através da organização de células educativas que possam de forma lenta e gradual mudar a percepção de mundo das camadas populares, o que, convenhamos, se constitui numa tarefa de longo, longuíssimo, prazo. Porque o processo educacional está nas mãos dos conservadores, através da manutenção e do reforço do ensino particular, pois os estados têm, cada vez mais, aberto mão do ensino público, no qual há mais liberdade de ação das forças consideradas progressistas do pensamento humano. A educação das massas para uma visão menos conservadora passa, diretamente, pelo fortalecimento das instituições públicas de ensino, em qualquer país do mundo, pois na escola pública os mecanismos de controle dos conservadores tendem a ser mais esgarçados, menos rígidos. Mesmo assim, a luta é árdua e difícil, pois não há um plano, uma conspiração consciente, apenas a noção vaga de que é preciso incutir outros valores que não os que se impuseram até agora na cabeça de nossos jovens. As forças conservadoras, nesse aspecto, são sempre muito mais competentes, porque sabem exatamente o que querem (manter o status quo), enquanto os objetivos revolucionários são extremamente difusos, porque não têm uma noção precisa do que colocar no lugar dos ideais conservadores. Sabe-se o que não se deve adotar, mas não se tem clareza quanto ao que adotar. Sabe-se que tipo de sociedade não se quer, mas não se sabe muito bem qual a sociedade ideal. Infelizmente.


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