terça-feira, 19 de abril de 2022

137 - A VERDADEIRA REVOLUÇÃO ESTÁ NA EDUCAÇÃO

(Jean-Paul Louis Martin des Amoignes - La classe 1886)


A afirmação de que toda sociedade é intrinsecamente conservadora é um balde de água gelada nos ideais revolucionários. Mas, se não se pensar desse modo, ou seja, se não se aceitar que o conservadorismo do tecido social se torna mais forte à medida que se conquistam direitos fundamentais, acumular-se-ão cada vez mais os erros espetaculares de todas as tentativas de revolução. O povo apoia um governo revolucionário somente quando seu programa não espolia os seus direitos, não modifica o que já foi conquistado, não estabelece normas totalmente opostas àquilo que ele estava acostumado. Não conheço a revolução chinesa, se assim podemos chamar o processo de instalação de um governo de esquerda nesse país. O que se pode observar a distância é que a verdadeira revolução tem sido a de dar cada vez mais passos decisivos em direção ao capitalismo de mercado, depois de dezenas de anos de total controle estatal dos meios de produção. Há que se notar, no entanto, que a China de antes da revolução socialista promovida por seus líderes comunistas se constituía num país quase feudal, onde as experiências radicais podiam ser postas à prova porque havia um imenso campo fertilizado por séculos de atraso e abandono. O povo não tinha nada e o pouco que ganhou com a revolução foi significativo, em relação ao passado, mesmo à custa de imensos sacrifícios. Hoje, no entanto, o trabalho febril de quase um bilhão e meio de chineses tem conseguido avanços muito mais importantes do que todas as teorias revolucionárias dos primeiros tempos de implantação do regime comunista. E esses avanços apontam, cada vez mais, para uma economia de mercado de cunho capitalista, para inserção desse gigante no mercado internacional, no qual o capital dá as cartas e quem não tiver cacife não participa. Lá, no entanto, opera-se uma outra revolução, essa muito mais importante, embora silenciosa: a educação. Através do ensino, do aumento sistemático de pessoas com curso superior, para enfrentar não só os desafios do mercado internacional, mas também para derrubar qualquer possibilidade de guinadas bruscas para o conservadorismo, a China tem obtido vitórias significativas no avanço para uma sociedade mais justa, apesar de todas as dificuldades e da imensa propaganda contra esse processo que vem de todos os países capitalistas, diante de possível e provável ameaça chinesa aos rincões de Wall Street. Tio Sam e toda a sua caterva de seguidores fiéis têm posto as barbas de molho, diante do avanço do gigante no imenso bolo de dinheiro gerado pelo comércio dos países capitalistas. O exemplo da China quanto ao processo educacional deve ser seguido por todas as nações emergentes, cujos governos queiram dar passos decisivos para sair do atraso, sem importar revoluções sangrentas e autofágicas que, em geral, minam ainda mais as reservas já depauperadas de qualquer país capitalista situado na periferia das grandes decisões mundiais. E educação deve ser considerada como um dever estratégico prioritário de governos, e não como apenas mais dever. Pensar no futuro significa pensar em educação para camadas cada vez mais amplas da população. Somente com a formação de imensas massas críticas de cidadãos escolarizados, de cérebros pensantes e criativos, um país pode constituir reservas de inteligência capazes de revolucionar a sociedade, sem necessidade de armas e de derramamento de sangue. A revolução educacional é lenta e silenciosa, mas é a única capaz de realmente produzir frutos.


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