quarta-feira, 13 de abril de 2022

135 - O CONSERVADORISMO DO HOMEM COMUM

 

(Gustave Caillebotte)


O problema maior para haver uma construção civilizacional por parte do homem comum constitui-se no seu conservadorismo. Os avanços, quando existem, são lentos e difíceis de assimilar. A história do homem comum é feita de pequenos incidentes que podem levar a grandes conquistas ou a grandes desastres, mas é sempre um processo lento, tendente a conservar aquilo que se conquistou, mesmo que essa conquista não seja a melhor para o conjunto da humanidade, embora seja perfeita para uma comunidade relativamente restrita. O povo, ao conduzir o processo histórico, tende a ter uma visão limitada desse mesmo processo, objetivando quase sempre o imediato, o restrito, o que lhe convém naquele determinado momento histórico e naquele determinado espaço territorial. E isso, muitas vezes, colide com os interesses maiores da humanidade. A ocupação de uma área pública ou privada por moradores sem teto e a consequente construção de moradias nesse espaço pode parecer, à primeira vista, uma grande conquista social. No entanto, se essa área ocupada se constitui em área preservada por ser, por exemplo, de mananciais estratégicos para a manutenção do fornecimento de água para toda a sociedade, isso não é levado em conta no processo de ocupação, com sérias consequências ecológicas para todos. O povo, quase sempre, tem uma visão muito pragmática da vida e uma concepção utilitarista dos recursos públicos, o que o torna, muitas vezes, um empecilho para uma verdadeira revolução. Aliás, o povo nunca faz revolução, porque o conceito revolucionário implica mudanças, a que o povo, em geral, é refratário.


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