domingo, 10 de abril de 2022

134 - O HOMEM COMUM

 

(Lyonel Feininger - Village near Paris)


A história da humanidade foi construída com momentos cruciais, em que decisões importantes foram tomadas por guerreiros, reis, príncipes, líderes religiosos e tantos e tantos outros homens (maioria) e mulheres (minoria) que tiveram em mãos o comando de uma grande ação. Mas, na verdade, o que conduz o destino dos povos não são os grandes acontecimentos, e sim a vida e a lida diárias dos cidadãos, colocados quase sempre como coadjuvantes no palco onde pretensamente brilham as chamadas autoridades. A construção de uma civilização não é tarefa para um líder, por mais pragmático que ele seja, mas uma lenta e penosa elaboração do dia a dia da população que pode ou não aceitar as ideias do líder e, através da prática comezinha das ações no lar, no trabalho, nas relações interpessoais, referendar os caminhos indicados ou palmilhar outros destinos, em busca daquilo que o povo acha melhor para si. Não há, nessa afirmação, nenhum traço de uma certa apologia do homem comum. Porque a entidade homem comum na maioria das vezes não tem nenhuma noção clara dos perigos a que se expõe, ao fazer escolhas totalmente erradas. E o grande número dessas escolhas tem levado a muitos desastres, tanto políticos quanto sociais. O povo se engana, e muito. A única vantagem do povo comum, do chamado senso comum, é que, assim como constrói determinados mitos e caminhos, também consegue se livrar dos mesmos, com relativa facilidade. A fidelidade do homem comum termina na exata medida de suas pequenas ambições. Dizem que o povo tem memória curta. Não é bem assim. O povo tem é medida curta para seus atos e suas simpatias ou antipatias. O que era bom num dia pode virar o péssimo do dia seguinte ou vice-versa. Todas as tentativas de manipulação da massa esbarram nessa falta de fidelidade. Pode, sim, o povo ser enganado, manipulado, por algum tempo, mas nada garante que o vento favorável a uma determinada facção manipuladora não mude de uma hora para outra, sem que haja o menor motivo aparente para isso.

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