terça-feira, 2 de agosto de 2022

169 - CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ÉTICA

 

(Pierre Auguste Renoir - l'enfant au chat: mademoiselle Julie Manet,1887)

Ética. Talvez o mais complexo conceito do pensamento humano. Porque não existe uma só ética, como não existem um só povo, uma só civilização, uma só cultura. Mas há elementos éticos universais, que dizem respeito à ideia de ser humano, ou seja, um ser que vive em relação com os outros. E esses conceitos não têm nada de maniqueístas, não dependem da existência de contrários, são apenas conceitos afirmativos, que guiam o pensamento humano na direção de uma vida menos bárbara, de uma convivência mais amena entre semelhantes ou opostos. O ser humano nada tem de divino ou de transcendental: nele mesmo estão todas as taras, todos os ódios, todos os medos, toda a ancestralidade devida à evolução. Tampouco é um ser pronto, acabado: embora pareça estar no topo da cadeia evolutiva, seus passos são ainda incipientes na estrada da evolução. É um ser de poucos milhares de anos, tem muito a evoluir, tem muito a modificar-se e, com certeza, não atingirá jamais a perfeição, porque os caminhos são inúmeros e inúmeras serão as tentativas para um novo padrão de existência. Tem ainda na boca o sabor do sangue de outros humanos e a autofagia está presente em todos os momentos da trajetória desse bicho que domina a terra e não domina a si mesmo. Enquanto esse gosto por sangue da própria raça não se esvaecer da sua mente, não haverá progresso digno desse nome na sua escala evolutiva. Imprimir na memória desse ser um novo código de ética, mais voltado para a valorização da vida, estritamente antimatança, com altíssimo grau de aceitação do outro, de respeito ao semelhante, mesmo que esse semelhante tenha crenças e culturas opostas, pode parecer um sonho, mas se constitui na única saída para a continuação de sua existência. Ou, pelo menos, será a única via para a construção de uma sociedade mais harmônica.

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