sexta-feira, 5 de agosto de 2022

170 - A ÉTICA DE VALORIZAÇÃO DA VIDA

 

(Maria Bashkirtseva: Jean and Jacques-1883)


A convivência pacífica, acima de credos absurdos, de superstições inaceitáveis pela lógica mais comezinha, deve ser a meta do ser humano para os próximos séculos. A superação da ideia de guerra, em primeiro lugar, e, depois, da ideia do assassínio, constitui o salto que nenhum outro ideário ético logrou alcançar até hoje, porque toda a ética praticada até agora, baseada em pressupostos metafísicos, está amarrada a crenças deístas de superação do espírito pelo corpo, o que leva o ser humano a procrastinar a ideia de felicidade, ela mesma uma criação absurda da metafísica, para depois da morte, como uma conquista impossível da vida humana, num dos mais profundos e maléficos absurdos da consciência, do pensamento e da filosofia do ser humano. Desvencilhar-se desse arcabouço de estupidezes permitirá o salto qualitativo da mente humana, preparando esse ser complexo e preso às armadilhas da metafísica para assumir a posição de ponto mais alto da escala evolutiva, que ele teima em pensar que já tem, mas está longe de alcançar. A ética desse ser, não um novo ser humano, mas já um ser um passo além da barbárie em que está naufragado, permitirá que ele repense a própria trajetória e planeje com consciência o seu futuro, agora baseado em dados de realidade, de conhecimento, e não em superstições tolas e impeditivas do seu progresso. A ciência não será a deusa num altar, porque não haverá mais deuses nem altares, mas a ela o ser humano dará a importância devida, não como um avatar, mas como a bússola que leva aos melhores caminhos, com a certeza de que, podendo enganar-se em seus pressupostos, não se prestará jamais a tornar-se a ditadora de todas as verdades, porque acima da ciência estará a ética da valorização e do respeito à vida.

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