domingo, 22 de maio de 2022

147 - PELA DEMOLIÇÃO DO EDIFÍCIO METAFÍSICO


 (Gustave Doré - la civilisation terrassant la barbarie - 1855)




Desagrada-me profundamente chegar a esse ponto da análise que faço da humanidade, mas não posso recuar ante os atos de barbárie que povoam as mídias de meu tempo, com narrativas de assassinatos, vandalismo, estupros, tortura, atos que os seres humanos cometem por causa da fome, da miséria, da crença em deuses estúpidos; por causa de motivos tão absurdos quanto a defesa de territórios cujas fronteiras são tão inúteis quanto as mortes que provocam; por causa de opiniões políticas divergentes ou simplesmente por causa do ódio que sentem em relação a seu semelhante, ódio alimentado por questiúnculas, por invejas, por motivos os mais fúteis que se possam arrolar, como se a vida, o único e verdadeiro bem humano, não valesse absolutamente nada. Esse traço de barbárie que perdura nos genes humanos, como marca de instintos primevos, não desaparecerá tão cedo, se não houver uma mudança profunda no modo de pensar dos seres humanos; se a humanidade não abandonar as crenças em mitos desastrosos que convidam à diferença, ao divisionismo, ao aprofundamento de usos e costumes antagônicos. É necessário queimar – física e metaforicamente - todos os altares, todos os deuses, todos os templos, todos os resquícios de divindade que a humanidade teima em cultuar, para povoar de demônios um mundo que nada tem de místico ou de metafísico. É preciso demolir o edifício metafísico incorporado ao pensamento humano, por séculos e séculos de imposição de conceitos absurdos. Porém, essa queima e demolição devem ser feitas de modo gradual, lento e seguro, para que não se transformem também em motivos de ódio, de desavenças, de mais guerras. Somente a educação pela filosofia e voltada para a ciência, para a observação e interpretação da natureza, sem metafísica, para o bem do ser humano e sua sobrevivência na Terra, transformará o bárbaro do século vinte e um no ser civilizado de alguns milênios para frente.






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