sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

104 - HUMANIZAÇÃO PELA ARTE

(Escultura de Giambologna: Rape of a Sabine) 


A capacidade de criação humaniza o ser humano. Mas não o livra da barbárie. O instinto animal, de defesa e ataque, de sobrevivência, de lutar e matar, continua presente no seu código genético. Modificá-lo levará ainda muito tempo. Enquanto isso, pode-se minimizar esse instinto através da arte. Só a arte pode conduzir o ser humano para a compreensão maior do que é ser realmente humano. Porque ele só compreende a si mesmo quando refletido no espelho da arte. Espelho onde se registram todas as notas da sinfonia complexa da existência. O pouco de vida que os humanos percebem deve-se à criação dos artistas de todas as épocas, esses seres de olhares perdidos no horizonte de si mesmos, obcecados pelas ideias demiúrgicas de busca de valores onde ainda há apenas esboços de ética. Quando o ser humano obtiver a verdadeira ética do respeito a si mesmo, ao outro e à natureza, não precisará mais da ética e os artistas talvez até rareiem ou desapareçam do convívio humano, mas terão cumprido a mais sublime missão, que é inculcar na mente dos humanos que é preciso eliminar os valores niilistas e negativos de vontade de morte ou de guerra. Mas a inexistência do artista num mundo utópico de paz e harmonia não significa sua expulsão do paraíso: apenas creio que todos os humanos se tornarão capazes da criação artística e não precisarão de profetas ou intérpretes para sentimentos e pensamentos que não mais se voltarão contra eles mesmos. No entanto, essa visão é, como já disse, utópica. A perfeição não parece pertencer à espécie humana, nem à natureza.


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