terça-feira, 4 de janeiro de 2022

103 - A ARTE

 

(Remedios Varo)


Os iluministas chegaram à conclusão de que a arte reflete a natureza. Sobre isso, muito já se falou. Contra ou a favor. Aprendi e ensinei sempre que, ao elaborar uma ficção (e, por extensão, qualquer outra forma de arte), construímos um mundo suprarreal, paralelo à realidade, com leis próprias e coerência interna. Esse mundo suprarreal é um espelho do mundo real, um espelho liso e claro ou rugoso e fosco ou, ainda, deformado por convexidades e concavidades ou por multiplicidade de faces, mas sempre um reflexo através do qual iniciamos a nossa busca pela identidade humana. Nele refletimos o que sabemos do ser humano, o que gostaríamos que ele fosse ou criticamos aquilo que vemos nele. Ou, até, mesmo, descobrimos ou tentamos descobrir o que o ser humano é. Nesse mundo, podemos tudo. Só não podemos contrariar suas leis internas de coerência e coesão. A arte, pois, reflete a natureza, sob uma óptica muito especial do artista, contemplando e buscando regiões obscuras ou pouco conhecidas do humano. O artista torna-se, assim, criador e demiurgo de sua criação. Mesmo que, às vezes, não tenha plena consciência disso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

187 - PALAVRA FINAL: O ALÉM DO HOMEM

  (Vincent van Gogh) Tenho plena consciência de que tudo quanto eu escrevi até agora constitui um rio caudaloso, uma pororoca, sobre a qual ...