(Edvard Munch - the hands)
Na mente dos metafísicos está escrita a sua maldição: é preciso, sempre, complicar, para explicar. E não adianta mostrar, provar ou dizer que nunca, em nenhum lugar do mundo, em qualquer circunstância, algum mortal tenha visto, percebido ou tocado a essência de qualquer coisa. Nenhum laboratório, até hoje, nenhum telescópio, nenhum detector controlado pela ciência, conseguiram, até hoje, encontrar sequer algum vestígio da essência da matéria, a não-matéria, a alma ou espírito, como querem fazer crer os truques de prestidigitação a que se dedicam os chamados espiritualistas. Nenhum homem retornou do sono da morte, como escreveu Shakespeare, para, logo em seguida, fazer Hamlet conversar com o fantasma de seu pai. Porque, acima da contradição, o genial dramaturgo prezava a construção poética do drama, o teatro em sua forma ideal. A diferença é que Shakespeare utiliza o paradoxo no palco. Os espiritualistas, os metafísicos, os lógicos de plantão pretendem que o palco substitua a própria vida e são audazes nisso: constroem templos, organizam festas e cerimônias, entoam cânticos, celebram eventos nunca ocorridos, inventam outros que jamais poderiam ocorrer e, assim, montam seu espetáculo teatral sobre a própria vida, acima da natureza, ocultando do espectador iludido com suas pompas a verdadeira natureza que permanece ali, atrás de toda aquela encenação, pronta a ser vista por quem tenha olhos de ver e de entender, sem dogmas, sem sectarismos, nua e crua em si mesma, sem nenhuma “essência” oculta.
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