sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

097 - DISCURSOS METAFÍSICOS SÃO PIRÂMIDES: BELOS E INÚTEIS

 

(Yves Tanguy)


A metafísica é antinatural e, por isso, criou produtos antinaturais, absurdos, embora atraentes e belos. São como as catedrais e as pirâmides, os discursos metafísicos: não servem para nada, a não ser para criar ilusões, sobre as quais navega a mente da maioria dos seres humanos. A ilusão da vida, essa a finalidade precípua da metafísica. Os metafísicos odeiam a vida verdadeira, que não tem essência, não tem dificuldades e complexidades além das que a própria vida oferece, em seu existir e em suas leis. Para a metafísica, é necessário, primeiro, negar a vida, depois, reconstruí-la na mente das pessoas como uma pirâmide de cristal, embalada numa lógica interna e perversa, elaborada para criar ilusões. E então, os cristos ressuscitam, os mortos falam, o inferno e o céu se povoam, as hagiografias se compõem, os milagres se realizam. E os cofres das igrejas se enchem do ouro dos tolos, aquele mesmo que não tem valor algum. Porque o mundo de ilusão está criado, estabelecido e estratificado nas mentes que não ousam olhar para fora, para a vida, para a natureza e observar sem sectarismos como essa vida e essa natureza realmente se comportam, muito distantes das metafísicas inúteis e enganadoras. Então, ao discurso cético só resta o caminho do testemunho, da análise serena e objetiva do mundo e da transformação dessa análise em filosofia do cotidiano, o que, às vezes ou quase sempre, parece pobre para as mentes “esclarecidas” dos metafísicos, sempre preocupados em buscar de cada objeto a sua “essência”, esquecidos, em suas elucubrações imbecis, de que a natureza é apenas aquilo que ela é, sem nenhuma “essência” espiritual além da matéria atômica de que é composta.

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