quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

101 - CONHECIMENTO E TECNOLOGIA

 

(Oscar Bluemner - moinho e riacho ou sol de inverno, 1925)


Muitas civilizações, como a dos gregos, dos romanos, dos maias e de inúmeros outros povos em todo o planeta, já pagaram muito caro, com sua decadência social, econômica, militar e política, por não respeitarem a natureza. Felizmente, esses povos ainda não haviam conquistado tecnologia suficiente para que a destruição fosse total. Isso só aconteceu nos dois últimos séculos, o que torna a vida no planeta Terra extremamente frágil. Como seres que pensam, sonham e constroem, os humanos deviam conquistar primeiro o conhecimento e depois a tecnologia. No entanto, como não há um plano pré-estabelecido de evolução e tudo acontece mais ou menos ao mesmo tempo, de forma aleatória, poucos foram os que adquiriram conhecimento e tecnologia e muitos os que detêm apenas a tecnologia. Com o conhecimento, somos capazes de observar a natureza e respeitá-la. Com a tecnologia, somos capazes de explorar essa natureza. Com conhecimento e tecnologia, respeitamos a natureza e exploramos suas potencialidades sem depredá-la. Mas só com a tecnologia, destruímos a casa em que moramos, comprometendo o nosso futuro. Os faraós, com a força de uma religião equivocada, ao obrigarem os egípcios a lhes construírem pirâmides para sua sobrevivência após a morte drenaram as forças da nação e isso pode ter contribuído para leva-los à derrocada. Os maias comprometeram definitivamente sua civilização, quando não respeitaram as florestas e as sufocaram e as sugaram com suas cidades voltadas para divindades alucinadas e predatórias. O homem ocidental moderno tem menos compromissos com as divindades loucas e sugadoras das forças de um povo, mas ainda assim tem arraigada em sua mente a noção absurda de sobrevivência num outro mundo, o que o torna arrogante e ignorante. Arrogante a ponto de, com a bênção de deus ou de deuses, erigir templos absurdos à tecnologia, esquecendo-se de que essa mesma tecnologia lhe possibilita conhecimentos fantásticos quanto às consequências de suas ações. Ignorante, por não saber como usar de forma racional e verdadeiramente ecológica todo o conhecimento acumulado desde o início da civilização e todo o conhecimento que a tecnologia lhe traz da observação de mundos distantes e, até mesmo, da prospecção do futuro. A ideia de deus, esse vício de que o homem precisa se livrar para conquistar definitivamente a liberdade de pensamento, constitui, ao fim e ao cabo, um empecilho para o próprio desenvolvimento humano. A humanidade tem de parar de pensar em deus e inventar divindades, para pensar melhor em si mesma. E poder sobreviver.

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