quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

094 - A GRANDE PIRÂMIDE DO CONSUMISMO

 

(Dinho Bento - o animal consumista)

A civilização egípcia construiu pirâmides para seus faraós. Monumentos imensos e perfeitos, que necessitaram de recursos formidáveis, para o nada, para a morte, para o engrandecimento de uma casta mínima de dirigentes. O culto à morte condenou todo um povo, toda uma civilização, ao desaparecimento, pelo esgotamento de suas reservas na construção de monumentos inúteis. As pirâmides, por mais fantásticas que as consideremos, são as obras mais fúteis já construídas pelo engenho humano. Não serviram para nada e não servem, hoje, para nada, a não ser para atrair turistas com suas máquinas fotográficas de último tipo e manter uma indústria mais ou menos próspera de antiguidades. Ao longo da história, o ser humano construiu e continua construindo pirâmides, adaptadas à ideologia e ao deus de cada época, chamadas ali de catedrais, mais adiante de palácios, mas todos esses monumentos maravilhosos, de pedra e materiais nobres, desafiadores da capacidade humana de criar coisas belas, todos eles monumentos à inutilidade. A grande pirâmide dos nossos tempos – iniciada a sua construção a partir da revolução industrial – não tem paredes de pedra, não tem existência visível, mas demonstra muito mais capacidade de esgotamento das reservas do planeta do que qualquer outro monumento já erguido pela humanidade em todos os tempos. Denomina-se consumismo. Chamo-a de catedral da absorção. Tem a boca de milhões de demônios famintos e os olhos de milhões de voçorocas a devorar as riquezas da terra, simplesmente pelo prazer de possuir seus tesouros, transformados em tantos bens inúteis, em tantas tralhas sem finalidade, em tantas geringonças a atravancar os lixões, que não somos mais capazes de controlar sua produção em série. Escravos dos subempregos que gera, abrutalhados pelo círculo vicioso do produto que gera uma necessidade que gera um produto, não percebemos, escondidos atrás das fumaças das fábricas, que estamos comendo por dentro o nosso planeta, vorazes bichos da fruta a matar a mãe que nos alimenta. Usamos e desperdiçamos recursos preciosos sem nos dar conta de que essa pirâmide infernal cresce a cada dia e esgota nossa capacidade de construir e preservar, esquecidos de que a Terra não é fonte perene de energia, de vida, de recursos. Não aprendemos com os povos que desapareceram que não podemos usar sem repor os recursos que parecem, à primeira vista, abundantes. Degradamos num simples piscar de olhos ecossistemas que levaram séculos para se desenvolver. Transformamos montanhas em lixo em poucos anos. Trituramos florestas imensas em poucos meses de exploração predatória. E com todos esses e outros recursos, queimamos vida, vida que não se repõe ou, se o faz, levará séculos ou milênios, quando, talvez, já não haja mais tempo para a humanidade. Tudo isso é fruto da estupidez humana. Ou, pelo menos, da maioria absoluta da humanidade. Não há racionalismo nenhum nessa autofagia desenfreada em que se meteu a humanidade, desde a sua existência, exacerbada agora pela tecnologia.

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