domingo, 5 de dezembro de 2021

093 - BARBÁRIE ECOLÓGIA

 

(Wols - Alfred Otto Wolfang Schulze - 1937-50)

Dominar a Terra. Ser o seu dono absoluto e sobreviver. Missão da humanidade. Não da humanidade atual, mas de um ser humano mais inteligente. O que vemos hoje constitui um estado de barbárie. Há cérebros extremamente lúcidos quanto aos problemas ambientais, trabalhando para que se ultrapasse esse estado de barbárie. Mas são minoria. Os interesses políticos e econômicos falam mais alto. E a estupidez da maioria faz o resto. Não há justificativa, além da estupidez, para a degradação do ambiente. Estamos, literalmente, cuspindo no prato em que comemos. Na verdade, cagando. Porque a sujeira dos rios, por exemplo, com dejetos humanos e industriais, só pode ser coisa de gente muito estúpida. A água, causa e consequência da existência de vida, torna-se, a cada dia, mais rara no planeta. A água potável transformar-se-á, se providências urgentes não forem tomadas, em verdadeiro pesadelo para a existência dos seres humanos neste planeta. Regiões de mananciais são tomadas pela especulação imobiliária, fruto da ganância, inviabilizando a captação de água para milhões de pessoas, sem que ninguém tome providências. Justifica-se a inoperância com o problema social, pois são, em geral, pessoas de baixa renda os invasores dessas regiões, incentivados pelo imediatismo de grileiros acobertados por interesses políticos. No entanto, coloca-se em risco a sobrevivência e o futuro de uma cidade como São Paulo, de dez milhões de habitantes, por causa de cinco ou dez mil invasores, que deviam ser retirados, nem que fosse a poder de polícia, para regiões onde não pudessem comprometer a própria vida e a de seus descendentes. Está-se dando um tiro no pé da civilização. Pobreza não pode justificar a burrice. E a burrice, nesse caso, não é dos pobres, mas daqueles que se aproveitam deles para tirar vantagens eleitoreiras. E não é só a degradação de rios e represas por esgoto humano e industrial que preocupa. Há também a terrível poluição provocada por mercúrio e outros produtos tóxicos provindos da atividade mineradora, da exploração descontrolada de rios importantes em busca de metais e pedras preciosas, também aí uma exploração resultante da ganância e da estupidez humana. A indústria de joias, essa fonte de vaidade estúpida, que cria maravilhas de arte e beleza infernais, para enfeitar o corpo de homens e mulheres, contribui decisivamente para a degradação do planeta, num canto de sereia que pode custar muito caro ao ser humano do futuro. Também o uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras, além de levar veneno para a mesa das pessoas, polui a terra e as águas, contaminando os rios e os aquíferos, matando a fauna e a flora, inviabilizando o uso da água subterrânea ao torná-la imprópria para uso humano. Também os mares e oceanos não escapam da fúria destruidora do ser humano, porque além de despejar nas águas marítimas a sujeira que vem dos rios e dos esgotos, acidentes com grandes petroleiros e perfurações em águas profundas sujeitas a vazamentos que despejam no mar milhões de litros de óleo ocasionam danos quase permanentes à fauna e à flora, sem que os governos tomem providências enérgicas contra as grandes companhias petrolíferas, que mandam e desmandam no mundo, refém de seu poderio econômico. E a poluição das águas é só um dos grandes problemas de degradação ambiental a que assistimos nesse início de milênio. Há outros, tão ou mais graves, como o desmatamento incontrolável das florestas em todo o globo, sob a responsabilidade de madeireiras que só visam ao lucro imediato, sob os olhos complacentes e, às vezes, até mesmo a contribuição de governos, polícia e judiciário corruptos; a poluição do ar com componentes cada vez mais tóxicos provenientes das grandes indústrias do mundo inteiro, principalmente dos países mais desenvolvidos, que despejam milhões de metros cúbicos de poluentes na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global, cujas consequências catastróficas podem se tornar apocalípticas para a humanidade; a pesca predatória, sem nenhuma preocupação com o ritmo da natureza, feita por grandes companhias donas de imensos navios pesqueiros que utilizam técnicas que não só capturam as espécies que lhes interessam mas também arrasam com toda a fauna marinha em quilômetros, sabendo que podem circular livremente por todos os oceanos, sem serem perturbados, porque confiam no seu poder para corromper e tornar reféns desse poder nações inteiras; a exploração sem controle das reservas naturais de petróleo e outras riquezas, esgotando em poucos anos o que deveria constituir em patrimônio da humanidade, sem investir em busca de energias alternativas que possam impedir uma catástrofe mais do que anunciada. Enfim, a humanidade torna-se cada dia mais refém de sua própria estupidez. Estupidez alimentada pela ganância do lucro imediato, pela especulação em torno da vida, sem pensar que o ganho de hoje pode ser a tragédia do futuro. A isso eu chamo barbárie, uma das tantas que acomete a humanidade, que é capaz de criar tecnologias fantásticas e não é capaz de pensar com o cérebro privilegiado que tem uma solução imediata que torne viável a vida humana de um futuro não muito distante, porque, diante do grau de avanço cada vez mais rápido da degradação, não haverá mais vida neste planeta dentro de cinco ou seis séculos, ou seja, a humanidade não comemorará o quarto milênio.

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