sábado, 11 de dezembro de 2021

095 - TECNOLOGIA E CONSUMISMO

 

(Anish Kapoor - Dismemberment)



Por paradoxal que possa parecer, somente a tecnologia pode nos salvar. Desde que usada com conhecimento. Porque é isto o que acontece: temos tecnologia e sabemos disseminá-la, mas não sabemos fazê-la acompanhar-se daquilo que lhe deu origem – o conhecimento. O ser humano é um animal hábil. Só isso. Não é, em essência, um animal sábio. Se fosse sábio, não se condenaria à extinção, ao usar a tecnologia apenas para destruir a casa onde mora. Assim, só o conhecimento, a sabedoria, poderá tirar a humanidade da enrascada em que se meteu. No entanto, conhecimento não é algo que se distribui facilmente. Como convencer o pobre diabo faminto de que não deve pescar durante certas épocas do ano? Como convencer o sem-teto a não invadir a área de manancial, porque estará degradando as fontes e destruindo o futuro? Não há futuro para quem tem fome. O imediatismo da miséria conspurca qualquer possibilidade de futuro. Então, o conhecimento, a sabedoria, deve ser usado, primeiro, para resolver questões econômicas de curto prazo. Vencer a miséria torna-se uma das metas a ser cumprida, para reverter a degradação de nosso planeta. Mas há a outra ponta da encrenca: o consumismo. Também é preciso convencer milhões a consumirem só o indispensável, a cortar o supérfluo, a desperdiçar menos e olhar mais para o futuro. Outra tarefa tão difícil quanto combater a miséria. Então, temos dois lados de uma mesma moeda, com o capitalismo selvagem fazendo a liga entre o mundo consumista e o mundo miserável, constituindo ambos o cerne de um dos problemas mais complexos da humanidade, a preservação de sua existência, a construção de seu futuro. Para combater a miséria, temos o conhecimento e nos falta vontade política, pois implica buscar soluções como distribuição de renda, criação de empregos, controle da natalidade, combate às doenças etc. Para combater o consumismo, não temos nenhuma tecnologia, a não ser o uso da razão, do convencimento simplesmente, mas diante das pressões econômicas dos capitalistas, isso se torna uma tarefa tão inútil quanto enxugar gelo. Ficamos, então, num beco quase sem saída. O grito dos ecologistas e o desespero dos cientistas a alertar para o desastre iminente precisam ganhar as manchetes dos meios de comunicação. A sirene do alarme deve ter seu ruído aumentado ao infinito, para que o mundo desperte da letargia do consumo desmesurado e busque o equilíbrio entre ser humano e natureza, para interromper o processo acelerado de destruição que a tecnologia possibilitou. Nunca se destruiu tanto em tão pouco tempo, com tão poucos recursos. Esse o preço que estamos pagando por uma tecnologia barateada pelo consumismo, usada sem o devido conhecimento, sem a devida sabedoria. Até quando vamos elevar a base e a atura dessa pirâmide chamada consumismo? Só uma grande catástrofe, talvez, possa acordar o homem. Infelizmente. E essa catástrofe está logo ali, a poucos anos a nossa frente, a nos espreitar com seus olhos silentes e sombrios. Só nos resta torcer para que, num determinado momento, os que têm sensibilidade para perceber o que está acontecendo possam ser ouvidos e, então, os povos comecem a cobrar de seus dirigentes a responsabilidade pelo equilíbrio do grande ecossistema em que vivemos. E tomem as providências necessárias, antes da grande catástrofe ecológica que nos espera. É preciso que paremos de queimar a vela da vida pelas duas pontas.


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