quinta-feira, 30 de setembro de 2021

072 - A ILUSÃO DOS MILAGRES

 

(Alexandre Evariste Fragonard –The Magician)


O que mais me impressiona, ao olhar para trás, para a história da humanidade, é perceber que o cristianismo tem apenas dois mil anos e as demais religiões hoje em voga não são muito mais antigas e muitas até mesmo bem mais recentes. No entanto, o ser humano existe sobre a Terra há centenas de milhares de anos. E durante todo esse tempo, não precisou do salvacionismo estúpido dos cristãos, tampouco das lições moralistas das demais religiões. E então, criam, principalmente a igreja romana, ilusões tremendas, como os tais milagres, e atribuem realizações que são obra apenas da natureza, do acaso ou das circunstâncias à ação de um deus obtuso que age através de santos estúpidos ou estupidificados pela fé inútil. Há, hoje, sobre a Terra, mais de sete bilhões de viventes. E quantos bilhões já viveram até agora? Um cálculo difícil de fazer. No entanto, um único milagre, realizado por um “beato” qualquer para um único indivíduo, torna-se motivo de comemoração e santificação. Por que escolheu deus esse indivíduo? O que tem ele melhor que os outros? Por que não curou ou salvou da morte bilhões de outros seres humanos? Por que só aquele mereceu a sua graça? São perguntas que não se fazem, porque as respostas serão todas evasivas e sem nenhum sentido. Não há explicação lógica, porque inventaram milhares de teorias para tentar explicar o inexplicável. A noção da existência de deus criou uma teogonia tão complexa, que já se gastaram infinitas desculpas e teorias para explicá-la. Tornou-se um emaranhado tão profuso de teses e ideias malucas, que ninguém, nenhum mortal, conseguirá mais deslindar tais mistérios. O fio de Ariadne perdeu-se, talvez para sempre. Não é mais possível tentar entender. Basta matar a ideia de deus na mente dos homens. Mas a palavra “basta”, aí, é apenas uma figura de retórica, um exagero que eu sei ser impossível de realizar a curto ou longo prazo, embora tenha a certeza de que um dia isso ocorrerá.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

187 - PALAVRA FINAL: O ALÉM DO HOMEM

  (Vincent van Gogh) Tenho plena consciência de que tudo quanto eu escrevi até agora constitui um rio caudaloso, uma pororoca, sobre a qual ...