sábado, 17 de julho de 2021

047 - PESSIMISMO E UTOPIAS


(Yves Tanguy (January 5, 1900 – January 15, 1955- French surrealist painter)


Quando procuro descortinar, de maneira até meio irresponsável, um provável futuro, com o otimismo dos ateístas, dos materialistas, não o faço porque acredito piamente que esse futuro seja luminoso. A vida, em todo o seu processo de evolução, nunca foi coerente. Atrasos e deformações, experiências e tentativas são parte desse processo. Na história, o único animal coerente tem sido o ser humano, coerente na adoração quase fanática de sistemas absurdos, como o deísmo e o culto à morte, mas a sua história tem apenas alguns milhares de anos, conta muito pouco na dimensão temporal do universo. Somos menos do que um átomo dentro da escala espaço-tempo de um universo que não cabe, ainda, em nossa mente limitada. Nossos sistemas de raciocínio são ainda tacanhos frente a uma realidade que está tremendamente além de nossa capacidade de apreensão. O futuro é indescortinável, diante do desafio de entender o passado e apreender o presente. O que eu procuro superar é a falsa impressão de que, ao desenvolver um raciocínio materialista, ateísta e extremamente realista, o meu discurso pareça pessimista aos olhos daqueles que cultuam o niilismo e o pessimismo com um sorriso idiota de esperança em benesses deístas de outras vidas ou de um nirvana absurdo, como se a vida não fosse aquilo que se nos apresenta diante de nossos olhos, quer queiramos ou não, com uma trajetória definida que vai do nascimento à morte e nada mais, e que é preciso dar o valor que ela tem como bem único e impossível de ser resgatado, por mais que desejemos sonhar com vãs utopias. Sim, é utopia, também, aquilo que prevejo. Seja, no entanto, uma utopia sem ilusões, sem trapaças, sem cultos e sem deuses que nos sufoquem e exijam de nós sacrifício daquilo que temos de mais precioso, a vida, em troca do nada. Não quero ser nem otimista nem pessimista. Quero apenas ter livre a minha mente para construir um outro mundo, sem compromissos com a coerência estúpida do deísmo e da ilusão. A realidade, sempre, tem muito mais encantos do que a fantasia, principalmente se essa fantasia está envolvida pelo manto da mentira e da falsidade, da promessa de esperanças inúteis ou da ameaça de deuses inúteis. O meu livre pensar não precisa da coerência de padres, pastores, aiatolás, rabinos ou falsos filósofos. Todos eles são vampiros da vida. São assassinos frios que só desejam do ser humano aquilo que ele não tem – a alma. E, portanto, tornam-se construtores de pirâmides, ou seja, exaurem a capacidade humana no culto à morte. Como os faraós fizeram com os egípcios. Como os papas fazem com os católicos e todos os demais líderes religiosos fazem com seu “rebanho”. Não é à toa que usam o termo “rebanho” e autodenominam-se “pastores”. Tratam seus fiéis como gado que levam para o matadouro, para saciar sua sede vampiresca de sangue. Para satisfazer a um deus também sanguinário e vingativo, que despreza a humanidade, tornando-a apenas massa de manobra para os interesses vis dos seus “representantes”, os sacerdotes, que, qualquer que seja o seu credo, constituem sempre uma classe de indivíduos desprezíveis, ao se colocarem acima de seu “rebanho” , como se fossem ungidos e diferentes, como se tivessem uma marca de nascença e fossem áugures de deuses estúpidos que exigem o sacrifício humano para “salvar a alma” dos idiotas e infelizes que acreditam nas suas obras ditas sagradas, para melhor enganar e estupidificar o ser humano. Sacerdotes e militares, as classes mais desprezíveis que o sistema odioso de exclusão e de ódio que a ideologia deísta criou para manter a humanidade na ignorância e na miséria e, assim, poder melhor escravizá-la. Nesse sistema, sim, reside todo o pessimismo trágico da história humana até agora.

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