sexta-feira, 26 de agosto de 2022

177 - PERSEGUINDO A UTOPIA DA CIVILIZAÇÃO

 

(Artus Quelllinus o Velho - Caritas romana - c.1652)


Qual é o índice de civilidade? O que é, realmente, uma civilização? Difícil responder, de forma simples, qual é o conceito de civilização. Porque pode um agrupamento humano ser extremamente civilizado em certos aspectos e tremendamente bárbaro em outros. O ser humano é múltiplo e muito mais múltiplo ainda quando reunido em sociedades de certa complexidade organizacional. No entanto, acho que o cumprimento das leis pode ser um bom índice civilizacional. Quanto mais cumpridor das suas próprias leis, mais civilizado é um povo. O problema desse índice, no entanto, está na forma como são elaboradas as leis e na sua própria essência. Eu acredito que não se obedece a ordens absurdas. Logo, as leis precisam ser sensatas para que o povo possa obedecer-lhes. E o que é sensatez? Aí, a coisa realmente pega, porque não é possível determinar graus de sensatez, quando se trata do pensamento humano e da própria história da humanidade. Para isso, teríamos que chegar a um grau de democracia republicana muito sofisticado, em que o poder realmente venha do povo, para ele se dirija e, principalmente, por ele seja controlado, sem nenhum resquício de tirania ou vilania. E isso, convenhamos, está mais para utopia do que possibilidade. Mas, se queremos, mesmo, ser utópicos, diria que civilizado é o povo que não precisasse de leis. Ou seja, o grau máximo de civilização estaria numa sociedade que abolisse leis, jurisprudências, regulamentos, decretos e congêneres e, até mesmo, por mais absurda que possa ser a ideia já há muito sustentada por correntes filosóficas, uma sociedade que abolisse qualquer ideia de poder, de governo, de diferença de classes. Um sociedade tão igualitária e tão cônscia de seus deveres e direitos que não precisasse de deveres ou direitos a serem defendidos ou, até mesmo, escritos ou ditos, para que se lhes obedeça. Uma sociedade em que cada homem e cada mulher respeitassem tanto a si mesmos, como ao outro e à natureza, que pudesse abolir a própria ideia de governo, de leis e de classes, por absurda e inútil. Tal sociedade cumpriria, sim, o requisito máximo de um povo civilizado: viver em harmonia consigo mesmo, com os demais e com o ambiente. Utopia? Sem dúvida, mas se a humanidade não perseguir esse tipo de utopia, não conseguirá jamais ultrapassar o estado de barbárie em que ainda se encontra.

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