quinta-feira, 11 de agosto de 2022

172 - O ÓDIO DEÍSTA AO SEXO

 

(Lenkiewicz - orgasmo)

A ojeriza deísta ao sexo como instrumento não só de procriação, mas também de prazer tem trazido formas importantes de discriminação, de desavenças, de exclusão. E, principalmente, de sofrimento. Porque nos faz lidar com nossa sexualidade como um tabu, como algo proibido, proveniente do chamado pecado original, aquele que levou o homem à queda, à expulsão do paraíso, segundo a doutrina deísta ocidental, chamada de cristianismo. A cosmogonia cristã já traz em seu bojo a condenação do sexo como algo fora da alçada do deus gerente que sabe tudo, mas não sabe que a sexualidade é não só uma forma de procriação, mas também fonte de extremo prazer. Um deus, sem dúvida, muito estranho. Dá à sua criatura o prazer, mas proscreve-o, como imundo. E pior: não só dá ao ato procriador uma imensa carga de prazer, mas permite que outras formas de sexo sejam descobertas pelo ser humano. E estupidamente condena essas formas alternativas como bestiais, como ainda mais indignas. E expulsa do seu rebanho uma imensa parte da humanidade que as pratica. Condena os homossexuais às chamas do inferno, simplesmente porque eles fazem sexo de forma diferente do que ele, o criador, ordenou que se fizesse. Ou, então, podia-se perguntar: serão os homossexuais seres que não foram criados por ele? O que traria ainda mais problemas, pois teríamos criaturas não-criadas, um inominável paradoxo. Para algumas seitas cristãs (e acredito que para muitas outras religiões não cristãs também), a homossexualidade é coisa do diabo ou é doença. Em ambos os casos, sua condenação e exclusão fazem parte das grandes contradições teológicas não resolvidas do deísmo. Se é coisa do diabo a homossexualidade, então deus não é assim tão poderoso como apregoam. Se é doença, então todos os doentes deveriam ser estigmatizados, e não somente os homossexuais. Enfim, teologia e sexualidade são como água e azeite: não deviam se misturar, mas a estupidez deísta, não podendo ignorar os instintos humanos, cria mil empecilhos a que o ser humano tenha uma relação sadia com seu corpo, com seus instintos, com seu sexo. E cria mais uma fonte interminável de discussões idiotas e sofrimentos inúteis.

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