segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

121 - A FÉ: COMBUSTÍVEL DO TERRORISMO

(Edvard Munch - o grito)



O medo. Esse o pior sentimento do ser humano. Impor o medo ao inimigo é ter o caminho aberto para a conquista. O mundo ocidental deste começo de milênio vive o pior dos medos: o terrorismo. E o medo se multiplica porque o terrorismo explode numa forma nunca antes conhecida: tem por combustível o fanatismo religioso e age através do suicídio de homens-bomba que se explodem para atingir pessoas inocentes. Também o medo fez que as guerras se tornassem cada vez mais cruéis. Cada vez mais, as populações civis são afetadas pelas consequências bélicas. Cada vez mais, morrem inocentes, sejam velhos, mulheres ou crianças. A barbárie atinge graus de insustentabilidade cada vez mais altos, impedindo que o ser humano, acossado pelo medo, tenha qualquer possibilidade de se defender. As convenções todas foram deslocadas para a periferia das preocupações dos que nada têm a perder, a não ser a própria vida, cujo holocausto lhes servirá de passaporte para a salvação eterna ou para as delícias de um paraíso povoado de virgens que os esperam. O homem-bomba do final do século vinte e do princípio desse milênio tem muito mais sangue frio do que os kamikazes japoneses, cujos alvos e objetivo eram militares e estavam contextualizados num cenário bélico. Os homens-bomba que se explodem em filas de crianças à espera de doces ou dentro do metrô de uma grande cidade não têm outro objetivo que a salvação do mundo através da sua crença e da consequente imolação de vítimas inocentes. E, para ele, o mundo só pode ser salvo se temer e tremer diante do deus que lhe dá meios e força para o ato de imolar-se. Assim, não há como impedir que o homem-bomba acione o dispositivo que carrega em seu corpo. Porque não é possível identificá-lo. O processo de desumanização a que ele é submetido tem nuances imperceptíveis a seus amigos e parentes. Porque o fervor religioso que o acomete também acompanha aqueles que estão em volta. O grau de envolvimento com as redes terroristas, através da religião, não transparece em seus atos religiosos, porque o processo de convencimento e desumanização para que ele cometa o seu ato supremo segue meandros absolutamente racionais e congruentes, porque os mentores sabem muito bem o que desejam, ao contrário dos jovens recrutados para o serviço sujo de se explodir e deixar amedrontados um povo ou um continente. Esses têm somente o ideal absurdo de seguir em frente, sem pensar em filhos, pais, parentes ou amigos. Sua mente está corrompida pelo pior sistema de convencimento e empulhação que o homem inventou, nessa sua longa trajetória de cultivo de sistemas metafísicos: a fé. E a fé, como muito bem diz a bíblia cristã, remove montanhas e, por extensão, destrói vidas humanas inocentes.


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