quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

120 - BARBÁRIE DO SER HUMANO MODERNO

 

(Edvard Munch - war)

Dentre as grandes nações que despontam nesse início de milênio, nenhuma pode se vangloriar de ser civilizada. São povos e nações que se projetam no cenário internacional com as asas do vampiro, prontas a pular no pescoço de vítimas incautas, ao menor sinal de que suas investidas podem dar certo. Não é à toa que o século vinte foi o século da matança. Nunca se matou tanto em toda a história da humanidade. E o século vinte e um segue pela mesma trilha de sangue. O ser humano ainda vê o diferente, o outro, como aquele que não tem alma e, por isso, deve ser destruído, por representar ameaça à sua condição de dotado por deus de uma missão qualquer. Há sempre um lado messiânico em toda guerra. E isto é o sinal mais claro de barbárie. Nas dobras da diplomacia moderna esconde-se o gesto de conquista, o gesto genocida de aniquilamento do outro. E quando há matanças gerais, ocorrem também matanças particulares. Se as nações matam, se os chefes risonhos das reportagens de televisão podem assinar o assassínio de milhares e milhares de pessoas e, com isso, ainda conquistar o apreço de seu povo e, até mesmo, de outros povos, por que o homem comum, aquele que se espelha nos poderosos, também não pode construir seus pequenos impérios do crime e decidir o destino de vários outros, como um arremedo de imperadores podres de países pseudocivilizados? Por que não podem também ser donos da vida do cônjuge aquele ou aquela que se julgam traídos? Por que não podem todos os imbecis ser donos da nossa vida e apontar para nossas cabeças suas armas assassinas simplesmente porque desejam o nosso relógio ou a nossa carteira com míseros tostões? A vida humana não vale absolutamente nada, tanto para os dirigentes das nações mais poderosas quanto para o assaltante de rua. E essa desvalorização da vida é reflexo de toda um sistema que se diz civilizado, mas que tem somente sofisticado os atos de barbárie de homens de todos os lugares do planeta. Buscamos, e devem até existir, pequenas ilhas de civilização, para que não decretemos o fim do ser humano, mas sabemos todos que, mesmo em países mais próximos do ideal de respeito humano, como os países nórdicos, o crime ainda persiste e o sangue humano de vez em quando (o que já é um alento esse de vez em quando) mancha indelevelmente o branco da neve. Os atos civilizacionais do ser humano, ou seja, aqueles que verdadeiramente trazem conquistas espetaculares, como as descobertas científicas, transformam-se muitas vezes em armas nas mãos dos bárbaros, que ainda são maioria e ainda governam a humanidade, com o fervor dos líderes de hordas medievais ou com o fervor de messias pré-cristãos ou, ainda, com o fervor deísta de destruição dos diferentes, do não reconhecimento de humanidade naqueles que se opõem aos seus desígnios. O fogo do inferno não se apaga nunca da memória dos deístas, pois é para lá que estão indo todos os opositores àquilo que eles chamam de civilização e eu chamo simplesmente de barbárie.

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