quinta-feira, 7 de outubro de 2021

074 - ATOS DE EXTREMA ESTUPIDEZ

 

(Escultura de Matt Verginer)


Aqui, neste longo e, às vezes, absurdo desabafo, posso escrever e dizer o que eu quero, sem quaisquer temores de que me acusem disso ou daquilo. Não escrevo para ser julgado. Não aqui. Renego quaisquer rótulos que me queiram apor. Renego quaisquer idiotices que venham dizer de mim. Estou livre, nestas páginas loucas, para expor meu pensamento, por mais estranho ou antissocial que ele seja. Mas, vamos ao que interessa. O ser humano diante da natureza. Esse encontro tem sido complicado, na trajetória humana. O nosso planeta tem uma vida toda sua, particular, de humores que não se podem ignorar. Não é um astro morto ou já pronto. Constrói-se e reconstrói-se continuamente, através de movimentos sísmicos, de vulcões, de tempestades. E tudo isso causa males aos demais seres vivos, humanos, animais e plantas. A história do planeta é uma história de destruição e morte. Assim é e nada se pode fazer para mudar. Temos nós, seres ditos racionais, que nos acostumar aos humores de nosso planeta. Assim, eu sei que o rio sobe na cheia, eu sei que vulcões explodem de vez em quando, eu sei que a terra treme em determinados lugares. Eu sei e todos sabem. Não há mistérios, não há segredos. São fenômenos que se repetem há milhares, talvez milhões, de anos. No entanto, o ser humano – dito ser racional e, portanto, inteligente – continua tentando viver e sobreviver às margens do rio, em regiões sujeitas a terremotos e à sombra de vulcões. Ou então, nas encostas de morros, depois de devastar a vegetação que impede a terra de deslizar. E quando as desgraças acontecem – e elas sempre acontecem – há choro, ranger de dentes e cobrança das autoridades pela perda de vidas, geralmente de inocentes que pagam pela incúria e estupidez de seus pais, enganados por sua vez pelo cupidez de grileiros acobertados por leis frouxas por corrupção de políticos e autoridades irresponsáveis. São pobres, sim, que, em geral vivem em situação precária, sem condições financeiras, mas são sobretudo muito estúpidos. Pobreza não pode ser sinônimo de estupidez, mas é o que geralmente ocorre. Sabem que não podem erguer barracos pendurados em morros, mas o fazem assim mesmo. Fico, então, imaginando quão longe está o ser humano de atingir a verdadeira racionalidade. Ou, ainda, fico pensando de onde tiraram os humanos essa capacidade de desafiar as forças da natureza com tanta persistência. Não há lógica que explique tal conduta. Não existem apenas morros onde fincar um barraco. Não existem só margens de rios e riachos onde espetar um casebre. Mas é sempre ali, na zona de maior risco que eles insistem em morar, em tentar viver e, na maioria dos casos, morrer. E eu fico pensando, a partir dessa estupidez, por que tem sido tão complicada a relação do homem com a natureza. Agimos como se não fizéssemos parte dela, como se nossa sobrevivência dependesse da destruição da natureza. E o exemplo, talvez um pouco radical, dessa estupidez de insistir em desafiar as forças da natureza, se estende também ao fato de outros seres humanos, por razões de estúpida ordem econômica, explorarem de forma predatória os recursos naturais. São milhares de minas de carvão, de ouro, de pedras preciosas, a abrirem sem nenhum critério extensas crateras, utilizando produtos altamente perniciosos tanto ao ambiente quanto ao ser humano, para produzirem uma riqueza duvidosa. São indústrias que poluem as águas ou cidades inteiras que despejam nos rios o esgoto que mata e destrói. São ocupações absurdas de regiões de mananciais que deviam ser preservadas e protegidas porque delas depende um bem essencial da humanidade, a água. Por que o ser humano suja a água, depreda o ambiente onde vive, destrói a natureza, vive em oposição às suas forças? Esse é um mistério que não entendo e só posso julgar como como atos de extrema estupidez da raça humana.


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