domingo, 12 de setembro de 2021

066 - O SER HUMANO NO RIO DA EVOLUÇÃO

 

(Doug Johnsonson)


Qual a saída para um novo mundo, mais justo ou, pelo menos, com uma distribuição mais equânime das riquezas que os mais miseráveis constroem e de que só os mais poderosos e mais ricos desfrutam? Não sei e talvez ninguém saiba. Confiar no rio da história, na ideia evolucionista da sociedade, pode ser temerário ou absurdo. Mas é uma crença. E é como eu vejo o transcorrer da vida através dos tempos. O que chamam de revolução, eu denomino processo. Ideias que embricam umas às outras, como elos de uma corrente. E evolução não quer dizer, simplesmente, a mudança de um estado pior para outro melhor: quer dizer, apenas, mudança, que pode redundar em experiências fracassadas, como acontece na evolução biológica. Os dinossauros foram uma experiência fracassada: organismos imensos, que necessitavam de milhares de calorias para sobreviver, colocavam em risco o equilíbrio ecológico. Por isso, não se adaptaram a novas circunstâncias de clima e condições da Terra e desapareceram. Não importa se a causa tenha sido um meteoro. Apenas não podiam sobreviver. E quantas outras espécies desapareceram, ao longo desses milhões de anos de vida? O ser humano também é uma experiência da natureza. Se não se adaptar, se não entrar em equilíbrio com as forças da natureza, também pode desaparecer. Ou evoluir para formas diferentes, ou adaptar-se a outros mundos, já que possui, como nenhuma outra espécie, a capacidade de criar e construir. São processos que surgem, hoje, com o desenvolvimento da ciência ou serão processos que surgirão em seguida, que em vão tentamos vislumbrar, mas que poderão se transformar na salvação da humanidade rumo a um futuro impossível de se prever. Está na ciência, sem dúvida nenhuma, uma das balizas da humanidade para garantir sua permanência no universo. E entendo como ciência a capacidade de interpretar a natureza e utilizar esse conhecimento em prol da melhoria das condições de vida. O ser humano não pode temer brincar de deus, porque é ele o seu próprio deus. De suas escolhas dependerá o caminho a ser trilhado. Se acertar, o futuro pode ser melhor, para a raça humana. Mas se as escolhas forem erradas, sua sobrevivência pode estar comprometida. Se acredito num rio da vida, num fluxo contínuo da história, pode parecer paradoxal que dê ao ser humano a capacidade de influir nesse rio. Mas é o que acontece. Dentro do caudal, há espécies que podem interferir nesse fluxo, alterar o seu rumo ou, até mesmo, fazê-lo cessar. E dentre essas espécies, situa-se o ser humano, que não está livre das leis naturais do fluxo. Sua capacidade de influir está limitada ao próprio fluxo. Se lutar contra a correnteza, pode naufragar. Então, sua capacidade de traçar caminhos está condicionada à ecologia, ao sistema maior. Não pode quebrar as correntes, como fizeram os dinossauros, mas, dentro do imenso caudal, buscar os veios, os caminhos, as trilhas que permitam a ele conviver melhor consigo mesmo e com a natureza, diminuindo as desigualdades, controlando a poluição e a superpopulação, vencendo as doenças e as epidemias, cuidando, enfim, de si mesmo e do ambiente em que vive. É esse conhecimento, mais profundo e mais sábio, que a ciência pode fornecer ao ser humano, para situá-lo dentro do universo, em harmonia com as forças da natureza, utilizando-se dessas forças para sua sobrevivência, sem agredi-las ou contrariá-las.


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