quarta-feira, 4 de agosto de 2021

054 - A EVOLUÇÃO GENÉTICA DO SER HUMANO

(Escultura de Liu Xue)


Já se usaram inúmeras metáforas para definir o ser humano e distingui-lo dos outros animais: o único animal que ri; o único animal que chora etc. Mas, na verdade, a única distinção realmente significativa entre o humano e seus parentes bichos, eu acredito, é aquela que diz que ele, o ser humano, é o único animal que pode evitar sua extinção. A história da evolução é clara: todos os seres vivos surgem, evoluem, modificam-se, adaptam-se ao meio, e depois entram em processo de extinção. O ser humano tem consciência disso e pode, até certo ponto, evitar ou prorrogar o seu processo de extinção. Assim como os animais, nós, os humanos, surgimos, evoluímos, modificamos nossas características e adaptamo-nos ao meio. Assim como os animais, surgem em todas as gerações “experimentos” genéticos que não dão resultado. São seres inadaptados, a que faltam certas características ou sobram aspectos ou órgãos; são seres que nascem “monstruosos”, com deformidades que provocavam espanto e admiração no passado e condenavam esses seres a viverem de sua “monstruosidade”, em circos e aparições públicas para derrisão do populacho ignorante. Ainda hoje, em pleno século XXI, ainda há pessoas que rejeitam com nojo o aparecimento desses seres, que nada mais são do que erros ou experiências da natureza, fruto de um processo aleatório de idas e vindas de nossos genes em busca da melhor adaptação. Não há monstruosidade nenhuma. São seres que merecem ou deviam merecer o mesmo respeito que qualquer outro que tenha nascido saudável, de acordo com as convenções vigentes. Na maioria das vezes, esses seres têm vida curta e, mesmo diante de toda a tecnologia disponível para tentar salvá-los, são como passarinhos que caem do ninho – tentamos prolongar-lhes a vida com alguns cuidados, mas eles quase sempre acabam morrendo prematuramente. Por outro lado, a evolução privilegia os seres mais bem adaptados, os mais “perfeitos” (dentro de um conceito bastante relativo de “perfeição”), e esses acabam prevalecendo, por algum tempo, até que também eles não tenham mais para onde evoluir e entram em processo de extinção. Os dinossauros são, provavelmente, o exemplo mais dramático desse tipo de evolução: tomaram o caminho errado, o crescimento exagerado, e a natureza não acompanhou a demanda de alimentos de que necessitavam e eles entraram em rápido processo de extinção, independentemente de qualquer catástrofe natural, como a propalada queda de um asteroide. Temos o maior respeito pelas baleias. São seres fantásticos. Mas a proliferação exagerada desses mamíferos marinhos pode levar à extinção inúmeras outras espécies de peixes, de que elas se alimentam, tendo como resultado sua própria extinção. Embora belos, são seres condenados pela ordem da natureza. Também o ser humano, se não obtiver uma clara noção de seu processo evolutivo (e temos essa noção: só não sabemos ainda o que fazer), poderá, dentro de alguns milhares de anos, tomar iniciativas que evitem a sua extinção, se a natureza não nos pregar uma peça como fez com os dinossauros e as baleias. No entanto, acredito que o conhecimento que se abre com o descobrimento da cadeia genética poderá tornar o ser humano o criador de seus caminhos, concluindo, afinal, que é ele, o ser humano, a criatura mais importante da natureza e só ele pode salvar essa mesma natureza e salvar a si mesmo.


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