segunda-feira, 21 de junho de 2021

024 - FÉ, PILAR DO DEÍSMO

 

(Escultura de Fernando Botero - Adam and Eve)

Se formos pensar na origem das crenças deístas, de como o ser humano primitivo construiu pouco a pouco todo o imaginário que deu origem a todas as religiões, teremos de concordar que há milhares e milhares de anos de impregnação de conceitos, de usos, de costumes e de princípios no coletivo que constitui hoje o acervo mental da humanidade. Desde as pinturas rupestres até a invenção da escrita e, depois, com a possibilidade de transmissão do conhecimento para as gerações posteriores, o ser humano passa e repassa as mesmas crendices que, tal qual um fóssil numa pedra, imprimiram nos neurônios de nosso cérebro uma marca indelével. Se pensarmos na literatura existente, quase tudo que se escreveu até agora está impregnado de conceitos deístas, está impregnado de crenças e crendices consideradas verdades universais que, por isso, não precisam ser contestadas, mesmo que não possam ser comprovadas. O pior é que, quanto mais se fala contra o deísmo, mais crentes se tornam as pessoas. Não há processo de convencimento que funcione, quando se trata de combater as ideias deístas. As pessoas argumentam com uma das justificativas mais difíceis de serem trazidas para uma base lógica: a fé. A fé realmente remove montanhas. Remove para cima de quem a utiliza como argumento todo o lixo deísta que vem dos primórdios da humanidade até os dias de hoje. E não haverá mais nada que se possa dizer ou fazer, para que o ser humano consiga sair de sob essa montanha. Por isso, sabiamente, um dos pilares do cristianismo (e, por extensão, das demais seitas e religiões de todo o mundo) seja a fé. Como não há conceito lógico para a fé, ou seja, é impossível defini-la, por se tratar de algo absolutamente abstrato e de foro íntimo (o que a torna muito conveniente), não há também como combatê-la no terreno da argumentação, da lógica. A fé é a grande cortina negra que mantém mais fechada ainda a humanidade dentro das trevas obscurantistas. Não se divisam, de imediato, frestas por onde entrar alguma luz, seja da ciência, seja da lógica. Como uma tartaruga, o ser humano coloca para dentro de si mesmo sua capacidade de raciocínio e de tirocínio, quando se trata de argumentos que abalem a sua fé. Por isso, os cientistas, mesmo os mais esclarecidos, mesmos os que não professam crenças deístas, têm dificuldade de colocar a ciência acima da fé. E os filósofos, que têm argumentos e capacidade para isso, não alcançam a popularidade necessária para sequer abalar um átomo do edifício deísta.


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