sábado, 10 de setembro de 2022

182 - NÃO HÁ ÓDIO NO ATEÍSMO

 

(Edvard Munch - Fertility II)


A veemência com que critico o deísmo pode levar a interpretações errôneas: eu não odeio o deísmo e, principalmente, não odeio os deístas. Acho-os, a ambos, um desastre para a humanidade. Mas não há nisso nenhum ódio, apenas a constatação de fatos que estão à vista de todos que não tenham sua visão obliterada por pensamentos mágicos ou metafísicos. O que existe de mais cruel no deísmo é que ele não permite que o ser humano assuma o seu lugar na corrente da vida, na corrente do evolucionismo. Não deixa, por exemplo, que a humanidade perceba que, assim como milhares de espécies surgiram, desenvolveram-se e desapareceram, muitas sem nem deixar vestígios, o ser humano também integra esse mesmo equilíbrio instável de, um dia, entrar na lista dos animais em extinção. Com sérios agravantes: crescemos e nos multiplicamos descontroladamente, apesar de termos conhecimento e técnica para controlar esse crescimento; temos, também, conhecimento e técnica para controlar o meio-ambiente de tal forma que não o depredemos e o tornemos hostil a nós mesmos, mas, mesmo assim, continuamos poluindo e destruindo o planeta onde vivemos; e ainda: temos noção clara dos perigos que nos levam à morte e à destruição, mas, mesmo assim, continuamos com políticas de exclusão e de ódios aos que são diferentes, provocando guerras cada vez mais destrutivas ou construindo armas cada vez mais potentes. A estupidez humana não é culpa exclusiva do deísmo. Mas deve muito a ele. Não posso afirmar que, sem as armadilhas filosóficas da metafísica e do deísmo, o homem resolveria todos os seus problemas, mas posso afirmar que sua ausência contribuiria significativamente para avançarmos no caminho da resolução de inúmeros problemas que afligem a humanidade e que colocam em risco a sua existência. Não teríamos, pelo menos, os julgamentos morais de seres humanos que ousam arriscar e buscar novos conhecimentos e novas tecnologias. E poderíamos entender melhor o universo em que vivemos, com suas leis ainda muito longe de serem totalmente decifradas, e poderíamos ter evitado ou ainda evitar muita dor e muito derramamento de sangue, para galgar mais um degrau do conhecimento.

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