domingo, 4 de setembro de 2022

180 - CONSCIÊNCIA DO CICLO DA VIDA

 

(Aleah Chapin, Seattle, Estados Unidos – 1986)


Compreender o ciclo da vida: a maldição do ser humano. Ter consciência de que nasce, vive e morre. E o processo de envelhecimento, parte importante da trajetória de vida de um ser humano, pode se tornar um pesadelo, se não soubermos conviver com todas as mazelas físicas e mentais decorrentes. Porque envelhecer pressupõe reconhecer a morte em nossas células, pressupõe antever o fim com o qual não concordamos. Então, inventam-se mil e uma formas de tentar driblar o desconforto da velhice, com eufemismos que em nada minoram o sofrimento de quem envelhece. Dizem que o velho é sábio, por exemplo. Não vejo sapiência nenhuma no simples ato de envelhecer, porque a ele acrescentamos apenas a experiência e é só por causa dela que parecemos mais sábios. Ter vivido experiências iguais ou semelhantes fazem de nosso cérebro a usina ideal de transformação dessas experiências em possibilidades de contorná-las, de evitá-las ou, até mesmo, de prever suas consequências. Isso, no entanto, não é sabedoria: é instinto. Além disso, nosso cérebro se torna mais seletivo, em virtude da grande quantidade de fatos e informações nele contidas, pois sua capacidade, assim como a memória de um computador, tem limites. Ainda que não conheçamos esses limites, ainda que sejam extremamente amplos, não podemos nos lembrar de tudo o que passamos, de tudo o que aprendemos e ele, o cérebro, deve ter mecanismos de seletividade à medida que passam os anos e nossas células nervosas envelhecem ou se tornam mais lentas. Por isso, um velho não é mais sábio: é só mais experiente e seletivo. Só há uma forma de se tornar mais sábio com a velhice: é não deixar que o cérebro envelheça, é não lhe dar descanso, é fazer que ele trabalhe sempre, através de atividades variadas, como a leitura, a reflexão, a escrita, os jogos de palavras ou de raciocínios e, até mesmo, através de atividades físicas. Se há alguma vantagem na velhice, em relação à capacidade intelectual ou mental, essa vantagem se resume ao repertório contido em nosso cérebro. Por isso, cuidar de sua saúde torna-se fundamental para uma velhice com um pouco mais de saúde e com qualidade de vida, para usar uma expressão muito em voga. Mas não nos enganemos: não há sabedoria maior ou menor na velhice. Há, apenas, um conjunto maior de experiências disponíveis, se o cérebro estiver saudável. Se não, somos o que sempre fomos, nem mais nem menos estúpidos ou inteligentes.

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