sexta-feira, 18 de junho de 2021

021 - CÍRCULO VICIOSO

(Domenico Fetti - Archimedes -1620)



A ciência avança a passos tão largos que, a cada cinco anos, o conhecimento que temos do mundo se multiplica. A era da informática armazena em computadores cada vez mais velozes e potentes tal quantidade de informações, que temos a impressão de que as próximas gerações passarão o tempo a tentar interpretar e entender todos os dados compilados até aqui. Há quinhentos anos, um homem como Leonardo da Vinci podia acumular em seu cérebro quase todo o conhecimento humano obtido até ali. Hoje, isso se torna impossível. Há necessidade de especialistas cada vez mais dedicados a porções mínimas da ciência, com limitada visão do todo. E isso é um mal. Tornam-se extremamente competentes num ramo científico, ganhando, com isso, notoriedade e situação privilegiada no mundo da ciência, mas incapazes de uma percepção generalista do homem e de terem uma visão de mundo abrangente. Não conseguem, por isso, com seus cérebros magníficos, convencer os demais seres humanos da importância da ciência e de quanto estão eles ainda na idade das trevas. Até mesmo esses cérebros sucumbem, muitas vezes, às superstições. E isso obstrui uma das mais importantes missões da ciência: livrar o homem do obscurantismo. Porque o obscurantismo, que tem como um de seus maiores defensores o cristianismo, constitui uma das maiores indústrias de exploração do ser humano pelo ser humano já criadas até hoje. Os marxistas jogam na conta do capitalismo todos os males, mas mantêm uma visão meio míope da função da religião no mundo. Ela não é o ópio do povo. A religião é uma máquina de exploração muito mais sofisticada. Por não ter elementos concretos, mas simbólicos, manteve-se distante da visão de Marx. E mantém-se distante da visão dos cientistas de hoje. Sobrevive a todas as catástrofes e prospera com elas. Interpenetra por todos os poros da sociedade e extrai de cada um de seus seguidores o néctar de sua existência que, sabiamente, ela transforma em dólares que se transformam em sistemas de dominação e obscurantismo do qual ela se alimenta, num círculo vicioso que parece não ter fim. Não há como escapar de seus tentáculos. Não em curto prazo. Talvez por isso o meu aparente pessimismo.

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